Crise na Venezuela

Papa disponível para mediação para tentar solucionar crise venezuelana

Papa realçou que tal processo precisa do acordo das duas partes.

Papa disponível para mediação para tentar solucionar crise venezuelana
ALI HAIDER

O Papa Francisco admitiu esta terça-feira a disponibilidade do Vaticano para avançar com uma eventual mediação para tentar solucionar a crise política venezuelana, mas realçou que tal processo precisa do acordo das duas partes.

Francisco falava aos jornalistas durante a viagem de regresso a Roma após uma visita aos Emirados Árabes Unidos.

"A condição inicial é que ambas as partes peçam" essa mediação, referiu o pontífice, em declarações aos jornalistas durante o voo de regresso à capital italiana, confirmando ter recebido uma carta do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, mas que ainda não tinha lido a missiva.

"Agora, não sei, vou ver com a carta [de Maduro], vou ver o que pode ser feito, mas estamos sempre disponíveis", afirmou Francisco, reforçando que para isso é preciso um acordo das duas partes, "esse é o segredo".

Na segunda-feira, numa entrevista ao canal de televisão italiano SkyTG24, Maduro disse que tinha escrito ao papa Francisco a pedir a sua ajuda e mediação na crise que enfrenta a Venezuela.

"Eu disse-lhe que estou a serviço da causa de Cristo (...) e, nesse espírito, pedi a sua ajuda no processo de facilitação e de reforço do diálogo", afirmou, na segunda-feira, o Presidente venezuelano.

A crise política na Venezuela agravou-se em meados de janeiro quando o presidente da Assembleia Nacional (parlamento), Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente interino.

Ao longo dos últimos dias, Juan Guaidó têm vindo a reunir importantes apoios internacionais, destacando-se o seu reconhecimento pelos Estados Unidos e por 20 países da União Europeia (UE), incluindo Portugal.

Guaidó promete formar um governo de transição e organizar eleições livres."Conciliar, iniciar oportunidades de diálogo, fazemos isso em diplomacia", afirmou o papa Francisco, recordando que tal postura permitiu no passado "evitar que uma guerra pudesse ocorrer" entre o Chile e a Argentina.

Em 1978, o papa João Paulo II conseguiu impor a mediação do Vaticano entre estes dois países que estavam próximo de um conflito por causa de uma disputa territorial (os dois países disputavam então o controlo de ilhas situadas na região do Canal Beagle).

Ainda em declarações aos jornalistas, Jorge Bergoglio recordou que o Vaticano esteve presente na altura em que existiu uma tentativa de estabelecer um diálogo entre o poder e a oposição na Venezuela, processo que decorreu então sob os auspícios do ex-primeiro-ministro espanhol Jose Luis Rodriguez Zapatero, entre finais de 2017 e o início de 2018.

Mas, segundo reconheceu o pontífice, o processo não teve o desfecho desejado.

Na quinta-feira passada, a Alta Representante da UE para a Política Externa, Federica Mogherini, anunciou a constituição de um grupo de contacto internacional para alcançar, em 90 dias, uma saída pacífica e democrática para a crise na Venezuela com a realização de eleições presidenciais.

A primeira reunião deste grupo realiza-se na quinta-feira (07 de fevereiro) em Montevideu (Uruguai).

A crise política na Venezuela, onde residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes, soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).

Lusa