Cultura

Sessão de Cinema: "A Marselhesa"

Sessão de Cinema: "A Marselhesa"
Com data de 1938, "A Marselhesa" é uma referência fundamental na filmografia de Jean Renoir

Na filmografia do mestre francês Jean Renoir, a evocação das atribulações da Revolução Francesa prevalece como um caso exemplar do grande fresco histórico.

É bem verdade que há muitos filmes clássicos que estão nas plataformas de "streaming" sem um mínimo de informação consistente sobre o seu enquadramento artístico e histórico. Mas não é menos verdade que esses filmes… estão lá! E vale a pena descobri-los.

É o caso de "A Marselhesa" (1938), evocação épica dos primeiros tempos da Revolução Francesa, realizado por Jean Renoir (1894-1979), imediatamente antes de dois dos seus filmes, também clássicos, tradicionalmente mais divulgados: "A Fera Humana" (1938) e, sobretudo, "A Regra do Jogo" (1939).

A produção de "A Marselhesa" é indissociável do contexto social e político de uma França governada pela coligação que ficou conhecida como Frente Popular (1936-38) — aliás, uma parte do respectivo financiamento resultou de uma subscrição pública da central sindical francesa CGT. Renoir ambicionou mesmo fazer um grande fresco histórico cuja acção pudesse prolongar-se até ao contexto em que o filme surgiu, com uma duração de cerca de 12 horas…

Na verdade, o filme dura pouco mais de duas horas, correspondendo ao modelo épico do chamado "filme histórico", com raízes no período mudo, especialmente popular na época — recorde-se, por curiosidade, e para lá de todas as diferenças temáticas e de linguagem, que "E Tudo o Vento Levou", neste caso uma produção de Hollywood, surgiria um ano mais tarde.

Há em "A Marselhesa" uma lógica de grande espectáculo que se enraiza, afinal, num elaborado sistema dramático e dramatúrgico. Assim, Renoir não descura as cenas das grandes manifestações populares — com inevitável destaque para a Tomada da Bastilha —, ao mesmo tempo que coloca em cena personagens muito diversas, das figuras anónimas do povo aos que tentam preservar privilégios ancestrais, em alguns casos com raízes feudais.

Em termos cinematográficos, este é um filme que entrou para a história como um exemplo modelar da epopeia histórica, política e militar, afinal presente nas mais diversas cinematografias (EUA, Itália, URSS, etc.). A vibração espectacular de "A Marselhesa" é tanto mais fascinante quanto Renoir foi também um observador da dimensão íntima e secreta das relações humanas.

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