Cultura

Morreu a escritora brasileira Nélida Piñon

Morreu a escritora brasileira Nélida Piñon
Mathieu Bourgois

Foi a primeira mulher a presidir à Academia Brasileira de Letras no ano do seu primeiro centenário.

A escritora brasileira Nélida Piñon morreu este sábado, em Lisboa, no Hospital CUF Descobertas. Tinha 85 anos.

Nasceu no Rio de Janeiro, numa família originária da Galiza.

Licenciou-se em jornalismo em 1956 pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, tendo colaborado em jornais e revistas literários e sido correspondente no Brasil da revista Mundo Nuevo, de Paris, e editora assistente de Cadernos Brasileiros.

A escritora tinha um vínculo estreito com Espanha, já que os pais e avós foram emigrantes galegos no Brasil, e foi-lhe concedida no início deste ano a nacionalidade espanhola.

O corpo será trasladado para o Rio de Janeiro, no Brasil, de forma a ser velado no "Petit Trianon", o principal salão da academia, que era como uma segunda casa para a escritora.

Carreira

Nélida Piñon teve uma voz firme contra a censura e a ditadura no Brasil. Feminista e autora de mais de 20 livros, entre novelas, contos, literatura infanto-juvenil, ensaios e memórias, em 1996/97 tornou-se a primeira mulher, em 100 anos, a presidir à Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleita em 1989 na sucessão de Aurélio Buarque de Holanda.

A sua obra literária está traduzida em diversas línguas, tendo sido distinguida com vários galardões ao longo da sua carreira.

Em 2019, lançou o livro "Uma Furtiva Lágrima", com pensamentos, reflexões, memórias, aforismos e confissões, sobre a vida, a morte e as relações humanas. Foi o primeiro livro a ser publicado depois de ter sido distinguida com o Prémio Vergílio Ferreira 2019.

Nélida Piñon, que se estreou com o romance "Guia-mapa Gabriel Arcanjo" publicado em 1961, recebeu o Prémio Internacional Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana e do Caribe, em 1995, o que aconteceu pela primeira vez para uma mulher e para um autor de língua portuguesa, assim como o prémio Bienal Nestlé, na categoria romance, pelo conjunto da obra, em 1991, e o da APCA e o Prémio Ficção Pen Clube, ambos em 1985, pelo romance "A república dos sonhos".

A Academia Brasileira de Letras destaca precisamente este romance no percurso da escritora, uma obra sobre uma família de imigrantes galegos no Brasil, em que "faz reflexões sobre a Galiza, a Espanha e o Brasil".
Igualmente assinalada pela Academia Brasileira de Letras é a sua obra de 1972 "A casa da paixão", que recebeu o Prémio Mário de Andrade, "um de seus melhores e mais conhecidos romances".

A sua mais recente obra, "Um Dia Chegarei a Sagres", lançada em 2020, ganhou o Pen Clube de Literatura.

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