Nas últimas décadas, com a proliferação de filmes de super-heróis, uma das críticas mais severas que tem sido dirigida à produção de Hollywood decorre da sua formatação “juvenil”. É caso para dizer que se essa é a regra, então não faltam excepções, isto é, filmes genuinamente adultos, procurando uma audiência que reconheça o cinema como uma arte tão artisticamente complexa quanto exigente. Eis um bom exemplo, disponível em streaming: “Clube de Combate” (título original: “Fight Club”), com assinatura de David Fincher.
Na sua origem está o romance homónimo de Chuck Palahniuk, publicado em 1996 (o filme surgiria três anos mais tarde). Nele se narram as aventuras e desventuras de um empregado de escritório, interpretado por Edward Norton: sofrendo de terríveis insónias, acaba por se envolver com o estranho e inquietante Tyler Durden — por certo uma das melhores interpretações de Brad Pitt — que, como forma de terapia para os males da civilização urbana, promove lutas cada vez mais violentas, ou seja, um “clube de combate”…
Encenado através de um realismo muito estrito que, afinal, se combina com um artifício delirante, “Clube de Combate” é um dos objectos mais complexos, e também mais ousados, da filmografia de Fincher. Rapidamente adquiriu estatuto de filme de culto: a sua visão da decomposição física e moral de uma grande metrópole envolve, afinal, uma parábola desencantada (marcada por um humor muito negro) sobre as nossas sociedades de consumo.
Ficou como um dos títulos marcantes do ano de 1999 e, nessa medida, também como uma espécie de conto terminal sobre o século que estava a acabar.