Ontem como hoje, a redução da produção de Hollywood aos títulos de grande orçamento (e, muitas vezes, aos seus efeitos especiais) tem tanto de historicamente simplista como de artisticamente enganador. Por isso mesmo, mais do que nunca, importa reconhecer que algumas plataformas de streaming têm apostado em recuperar muitos filmes mais “antigos”, favorecendo, precisamente, uma visão alargada, menos preconceituosa e mais informada, da pluralidade (e também das contradições internas) do cinema dos EUA.
Um belo exemplo actualmente disponível poderá ser “The Big Combo” (1955), um clássico dos filmes de pequeno orçamento — a chamada “série B” — que os grandes estúdios também produziram, sobretudo ao longo das décadas de 40/50. Realizado por Joseph H. Lewis (1907-2000), um especialista deste modelo de produção, “The Big Combo”, entre nós lançado como “Rajada de Morte”, constitui, além do mais, um belo exemplo da “série B” policial, ou melhor do chamado filme “noir”.
Estamos perante um exemplo sintomático da energia trágica que distingue os melhores filmes do género. Esta é a odisseia de um tenente da polícia que investiga um gangster, seguindo uma trajectória em que a defesa da lei e da ordem se vai confundido com o facto de ele estar apaixonado pela namorada do próprio gangster…
Admiravelmente fotografado a preto e branco pelo mestre John Alton, com Cornel Wilde, Richard Conte e Jean Wallace nos papéis principais, “Rajada de Morte” é um símbolo exemplar de um cinema sustentado por uma admirável galeria de talentos — foi há mais de 60 anos e, literalmente, já não se fazem filmes assim.