O campeão mundial de xadrez Magnus Carlsen acusou, pela primeira vez publicamente, o adversário Hans Niemann de batota. O jogador norueguês disse acreditar que o norte-americano "fez batota mais vezes do que admitiu publicamente", embora não tenha apresentado provas.
Carlsen, de 31 anos, já tinha feito acusações veladas contra Niemann, que o derrotou este mês de forma surpreendente.
Niemann, de 19 anos, negou ter feito batota e acusou Carlsen de tentar arruinar a sua carreira.
O adolescente norte-americano admitiu ter feito batota online duas vezes, quando tinha 12 e 16 anos, mas negou veementemente ter alguma vez feito batota num jogo ao vivo e até disse que estava disposto a jogar nu para provar a sua boa fé.
Escândalo no mundo do xadrez
O escândalo começou no início deste mês quando Carlsen, considerado por muitos o maior jogador de todos os tempos, foi derrotado por Niemann na Sinquefield Cup nos Estados Unidos, encerrando uma sequência de 53 jogos invictos no xadrez clássico.
Carlsen abandonou o torneio, apesar de faltarem seis rondas. Mais tarde publicou no Twitter um vídeo de 2014 em que o treinador de futebol José Mourinho diz: "Se eu falar, fico com grandes problemas".
Na semana passada, a dupla encontrou-se novamente num torneio online, mas Carlsen desistiu depois de fazer apenas uma jogada - em protesto contra a participação de Niemann.
Num comunicado publicado no Twitter na noite de segunda-feira, Carlsen disse: "Estou frustrado. Quero continuar a jogar xadrez ao mais alto nível nos melhores eventos".
"Acredito que fazer batota no xadrez é um grande problema e uma ameaça existencial ao jogo. Também acredito que os organizadores do xadrez e todos aqueles que se preocupam com a santidade do jogo que amamos deveriam considerar seriamente aumentar as medidas e métodos de segurança de deteção de batota".
"Acredito que Niemann fez batota mais vezes - e mais recentemente - do que admitiu publicamente."
Carlsen disse que começou a desconfiar de Niemann porque ele fez progressos "fora do comum" nos últimos anos.
Disse que, durante o jogo na Sinquefield Cup, sentiu que Niemann "não estava tenso nem sequer totalmente concentrado" enquanto o superava jogando com as peças pretas "de uma maneira que acho que poucos jogadores o podem fazer".
“Devemos fazer algo sobre a batota e, da minha parte, não quero jogar contra pessoas que fizeram batota repetidamente no passado, porque não sei o que eles são capazes de fazer no futuro”, disse, acrescentando que havia mais que queria dizer, mas não podia "sem permissão explícita de Niemann para falar abertamente".
"Até agora só consegui falar com as minhas ações, e essas ações declararam claramente que não estou disposto a jogar xadrez com Niemann", disse Carlsen .
Niemann nega ter feito batota ao vivo
Quando a controvérsia estalou no início deste mês, Niemann negou de forma veemente ter feito batota num jogo frente-a-frente, acusando Carlsen e outros de tentarem arruinar a sua carreira.
"Se eles quiserem que eu fique totalmente nu, eu faço isso", disse Niemann.
"Eu não me importo, porque eu sei que estou limpo. Querem que eu jogue numa caixa fechada sem qualquer transmissão eletrónica, eu não me importo. Estou aqui para vencer e esse é o meu objetivo."
Federação de xadrez preocupada
Num comunicado publicado na sexta-feira, três dias antes das acusações de Carlsen, o presidente da Federação Internacional de Xadrez, Arkady Dvorkovich, disse que a direção partilha das "profundas preocupações de Carlsen sobre os danos que a batota traz ao xadrez" e afirmou que estão preparados para investigar incidentes "quando for fornecida a prova adequada.”
Dvorkovich criticou, no entanto, a conduta de Carlsen ao deixar um jogo após uma jogada:
“Acreditamos fortemente que o campeão mundial tem uma responsabilidade moral ligada ao seu estatuto, já que ele é visto como um embaixador global do jogo. “As suas ações refletem-se na reputação dos seus colegas, nos resultados desportivos e, eventualmente, podem prejudicar o nosso jogo. Acreditamos firmemente que havia maneiras melhores de lidar com esta situação”.