A ex-tenista Martina Navratilova critica a decisão da organização do Open da Austrália de proibir e confisca camisolas de apoio à jogadora chinesa Peng Shuai.
A equipa de segurança pediu, na sexta-feira, aos espectadores que tentavam entrar no local, para despirem as camisolas que estariam a usar e onde se poderia ler: “Onde está Peng Shuai?”.
Peng esteve várias semanas desaparecida, após acusar um alto funcionário chinês de crimes de caráter sexual em novembro de 2021.
Se é verdade que a tenista chinesa, atualmente, já apareceu, é igualmente verídico que muitos continuam preocupados com o bem-estar da atleta.
Open “fechado” a permitir camisolas
A Tennis Australia, entidade organizadora do Open da Austrália, refere que a segurança de Peng Shuai continua a ser a sua “principal preocupação”, mas, em comunicado, defende a decisão de proibir as camisolas e adereços com a mesma mensagem.
“Relativamente às nossas condições de entrada [nos recintos desportivos], não permitimos roupas, faixas ou sinais comerciais ou políticos”, afirma.
Mar de críticas
Num tweet, a ex-número um do mundo do ténis, Martina Navratilova, chama a decisão de “patética”.
O tenista francês Nicolas Mahut também falou sobre o incidente, sugerindo que organização se estaria a “curvar” perante a pressão de grandes patrocinadores chineses.
A empresa chinesa de bebidas Luzhou Laojiao e a empresa de colchões DeRucci são dois dos principais parceiros no site do Open da Austrália.
“O que está a acontecer!? Que falta de coragem! E se vocês não tivessem patrocinadores chineses?”, atira Mahut, na rede social Twitter.
A investigadora australiana do grupo internacional de direitos humanos Human Rights Watch, Sophie McNeill, denomina a decisão da Tennis Australia de “ilegal” e insta outros tenistas no torneio a chamarem a atenção sobre o caso de Peng Shuai.
O incidente de sexta-feira também desencadeou a criação de uma página, na plataforma “Gofundme”, que promete imprimir mais camisolas depois de atingir uma meta de meta de 6.337 euros.
Política e ofensas proibidas
É comum que eventos desportivos internacionais tenham políticas sobre o que os organizadores consideram ser “declarações políticas”: Wimbledon, por exemplo, proíbe “qualquer objeto ou roupa que tenha declarações políticas, declarações censuráveis ou ofensivas” nos campos do torneio.
O que aconteceu a Peng?
Em novembro, Peng publicou uma nota na rede social chinesa Weibo, acusando o ex-vice-primeiro-ministro chinês, Zhang Gaoli, de forçá-la a praticar atos sexuais com o político.
A tenista acabou por desaparecer dos olhos do público, provocando uma onda de preocupação global entre a comunidade internacional de ténis, fãs e grupos de direitos humanos sobre o seu real paradeiro.
Semanas depois, Peng acabaria por regressar ao olhar do público e, na sua primeira entrevista, em dezembro, acabou por negar ter feito qualquer acusação de agressão sexual e alegou que a sua publicação gerou “muitos mal-entendidos”.