Nasceu no Porto, mas fez os primeiros anos da escola em São Tomé e Príncipe e Cabo Verde, onde os pais professores trabalharam como cooperantes. Aos 9 anos, regressou a Portugal e viveu em várias cidades, como Aveiro, Vila Nova de Gaia, Lisboa e Coimbra, onde começou por frequentar o curso de Direito e deu início a uma carreira no teatro. Desde a juventude que participa em movimentos cívicos e políticos. Foi eleita deputada pela primeira vez em 2009, ainda como independente nas listas do Bloco de Esquerda. No ano seguinte, aderiu ao partido e passa a integrar a direção. Acredita muito no coletivo e a sua capacidade de conciliação é frequentemente elogiada.
“Acredito mesmo em construção coletiva de um caminho”, disse em entrevista ao projeto “Os 230”, na qual explicou que assumi u a coordenação do Bloco de Esquerda precisamente porque começou por ser uma liderança coletiva. Em 2012, juntamente com João Semedo, sucede a Francisco Louçã. Em 2014, na sequência da IX Convenção, João Semedo abandona o cargo, passando a vigorar uma nova Comissão Permanente da qual Catarina Martins é porta-voz. Em 2016, assume as funções de Coordenadora do Bloco de Esquerda quando a Comissão Permanente é dissolvida, após a X Convenção.
A juventude, o teatro e a politização
Participou desde a juventude em diversos movimentos cívicos e políticos, incluindo a luta contra a Prova Geral de Acesso e a contestação à introdução de propinas na universidade. A atividade cultural também marcou desde cedo a sua formação e participação cívica.
Em Coimbra, frequentou e dirigiu o Círculo de Iniciação Teatral da Academia Teatral (CITAC), grupo de referência na formação teatral universitária, numa altura em que ainda havia poucos cursos de teatro no país.
“Quando acabei o ensino secundário não fazia a mínima ideia do que havia de estudar e fui estudar Direito em Coimbra, porque sim. Era boa aluna, tinha boas notas, era normal que fosse para a universidade. Não sabia o que queria fazer, o meu avô tinha sido advogado e eu tinha uma ideia muito romântica da Justiça e do Direito”, contou ao “Os 230”, projeto independente que visa esbater, de forma isenta, a distância entre a classe política e os cidadãos.
Foi nessa altura que o teatro surgiu como primeira escolha, dando assim início a uma carreira teatral, de atriz e de participação em vários projetos artísticos. Foi também cofundadora da Companhia de Teatro de Visões Úteis e dirigente da Plateia (Associação de Profissionais das Artes Cénicas).
“Sempre fui muito politizada, mas a verdade é que a atividade do teatro em si também tem uma grande importância na politização”, disse na mesma entrevista, em outubro de 2021.
Além da paixão pelo teatro e pelas causas políticas e cívicas, assume que também gosta bastante de estudar. Foi muito por isso que, desiludida com o curso de Direito, acabou por se licenciar em Línguas e Literaturas Modernas. Tem também mestrado em Linguística e frequência de doutoramento em Didática das Línguas.
A família e os primeiros anos de escola em África
Catarina Soares Martins nasceu no Porto, a 7 de setembro de 1973. Aos 6 anos, chega a São Tomé para fazer o primeiro ano de escolaridade. Os pais, professores, mudam-se para lecionar neste país africano e as memórias que guarda desse tempo são muito positivas.
“Tenho muito esta imagem de, de repente, a vida ser muito calma. De ter muito mais a presença do meu pai do que tinha”, conta em entrevista ao “Os 230”.
No segundo ano, a família muda-se para Cabo Verde e é no Mindelo que começa por frequentar a escola nesse país, passando no ano seguinte para Praia.
Aos pais deve também o interesse pelas causas cívicas e sociais e o facto de, desde cedo, ser uma pessoa “muito politizada”. Catarina Martins gosta de manter a privacidade dos que lhe são mais próximos e poucas vezes fala da família.
“A minha vida não tem nenhum segredo, sou casada com a mesma pessoa [Pedro Carreira] há muitos anos, temos duas filhas. Tentamos os equilíbrios possíveis para uma vida dividida entre o Porto e Lisboa”, disse à TVI, numa das poucas entrevistas em que abordou o tema.
Questionada sobre o relacionamento com as filhas e “se é mais descontraída ou exigente”, Catarina Martins refere que é “um bocadinho dos dois”.
“Quando quiserem ter uma vida pública terão por aquilo que escolheram fazer e não pela minha escolha. Sobretudo com as minhas filhas acho importante, elas têm de ter o espaço de serem quem são, fazerem os seus amigos, serem avaliadas, crescerem independentemente de mim”, sublinhou.
“Acha que uma mulher na política pode ser preguiçosa?“
A duas semanas das legislativas, a coordenadora do Bloco de Esquerda foi entrevistada por Ricardo Araújo Pereira, no programa “Isto é Gozar com Quem Trabalha – Especial Eleições”.
Questionada sobre se à semelhança do PS que vai voltar a a presentar a mesma proposta de Orçamento de Estado para 2022, vai ser preguiçosa e apresentar a mesma desculpa para voltar a chumbar o documento, a deputada responde prontamente com uma pergunta: “O Ricardo acha que uma mulher na política pode ser preguiçosa?”
E acrescenta logo de seguida: “Deu muito trabalho descer as propinas da universidade, deu muito trabalho que houvesse manuais escolares gratuitos, dá muito trabalho, e nós estamos cá para fazer esse trabalho, ainda há muito para fazer. Está a dar muito trabalho que o Governo tire da gaveta o dinheiro com que se comprometeu para os cuidadores informais. Está a dar mesmo muito trabalho, e nós cá estamos”.
Na mesma entrevista, falou da forma como gosta de estar na política: “Eu gosto mesmo de falar com pessoas. Entusiasmo-me mesmo a discutir as soluções, a ouvir as pessoas, os seus problems. Há quem ache que a política tem de ser uma coisa carrancuda… Mas eu acho que a politica tem de ser isso mesmo – estamos uns com os outros, ouvimo-nos e entusiasmamo-nos“.
Em dezembro de 2015, após o sucesso eleitoral do Bloco de Esquerda e do afastamento da direita do poder, a conceituada revista norte-americana Politico classificou Catarina Martins como uma das 28 personalidades em destaque na Europa. E em março de 2017, o Jornal Económico considerou Catarina Martins a mulher mais influente em Portugal.
É no mandato de Catarina Martins que o Bloco de Esquerda alcança o seu melhor resultado eleitoral de sempre. O partido obtém nas legislativa de 2015 meio milhão de votos, 10,19% e elege 19 deputados. Nessa altura, para a negociação da “geringonça”, a líder bloquista impôs condições que continua a considerar essenciais na luta política, com destaque para: a legislação laboral e a subida do salário médio; os serviços públicos, com relevo para a saúde; acabar com duplas penalizações nas pensões e a resposta às questões climáticas.
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