Os resultados da noite eleitoral portuguesa estão em destaque nos meios de comunicação internacionais. A vitória de António Costa com maioria absoluta é apontada por muitos jornais como “histórica”, sublinhando que o primeiro-ministro poderá tornar-se o mais longo em funções desde o 25 de Abril. Também a ascenção da extrema-direita a terceira força política é referida.
Para o La Vanguardia, “as vacas voaram uma vez mais” para António Costa. Uma expressão que pretende mostrar que o impossível aconteceu. “Quando as sondagens o colocavam contra as cordas, conseguiu ontem [domingo] o seu melhor resultado eleitoral“, escreve o jornal espanhol, num artigo intitulado “António Costa constrói a sua lenda”.
Também o britânico The Guardian, sublinha que a vitória de Costa “desafiou as probabilidades” ao atingir a maioria absoluta. “O resultado, impulsionado por uma participação acima do esperado apesar da pandemia, surgiu como uma surpresa depois dos socialistas quase terem perdido a sua vantagem em sondagens recentes“, escrevem.
O canal de televisão BBC noticia a “maioria absoluta inesperada” e o jornal espanhol El País destaca que Portugal é pouco dado a maiorias absolutas, referindo que esta pode ser “considerada histórica“, numa eleição em que os portugueses “punem severamente os parceiros minoritários da geringonça“.
Lembra também que a última maioria absoluta foi conseguida por José Sócrates, uma conquista que “a equipa de Costa não tem interesse em recordar“, devido aos processos judiciais por corrupção
O discurso do primeiro-ministro é também citado por vários jornais internacionais. Desde a afirmação de que “uma maioria absoluta é uma responsabilidade para governar para todos os portugueses“, destacada tanto no El País como no francês Le Figaro.
“Os portugueses mostraram um cartão vermelho a qualquer cris política, os portugueses manifestaram o seu desejo de nos próximos anos contarem com estabilidade, certeza e segurança”, pode ainda ouvir-se no vídeo com partes do discurso de António Costa, publicado pelo jornal francês.
O Le Monde dá também destaque à vitória de Costa, lembrando que a subida ao poder do primeiro-ministro teve origem num acordo à esquerda “sem precedentes desde a Revolução dos Cravos de 1974“. Apelida ainda esta vitória de “vingança” contra os partidos de esquerda.
Em Itália, o Corriere Della Sera comparou a vitória de António Costa a um “hat-trick” – termo futebolístico que identifica três golos marcados pelo mesmo jogador – e apelida a derrota de Rui Rio como sendo uma “desilusão”.
A subida do Chega e a extrema-direita como terceira força política
Os jornais internacionais destacam ainda o crescimento acentuado do partido liderado por André Ventura no Parlamento. Em dois anos, o Chega passou de um deputado para 12, tornando-se a terceira força política nacional.
O Le Figaro destaca a subida do Chega e lembra que “Portugal tem sido uma exceção na Europa” por não ter tido representação de extrema-direita “desde o final da ditadura de 1974 e até às últimas eleições de 2019”. Vários jornais internacionais destacam também o crescimento da Iniciativa Liberal, que conseguiu eleger oito deputados.
O espanhol El Correo destaca que o resultado do Chega “superou claramente o dos comunistas e do Bloco de Esquerda” e aponta como principal derrotado – “sem dúvida” – Rui Rio, “que não conseguiu erguer-se como uma alternativa credível ao primeiro-ministro António Costa“.
No que toca a derrotas o La Vanguardia aponta a derrota do Bloco de Esquerda como tendo sido a mais acentuada: “caiu mais de metade em percentagem de voto obtido em 2019, cedeu a sua posição de terceira força política e perdeu o papel de grande influência que mantinha desde 2015″. O jornal afirma ainda que “Catarina Martins [está] muito queimada” enquanto coordenadora do Bloco e defende que “deveriam haver mudanças urgentes de liderança tanto no Bloco de Esquerda (…) como no PCP”.
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