"A dispersão dos hidrocarbonetos foi interrompida, já não vão para mais lado nenhum”, garantiu hoje um representante do Ministério das Situações de Emergência na região de Krasnoiarsk, explicando que a situação foi controlada através de uma represa flutuante e que o bombeamento do combustível já começou a ser feito.
“Estão a ser feitos esforços para eliminar a poluição”, disse a mesma fonte, que admitiu desconhecer se a dispersão do combustível foi interrompida no rio Ambarnaïa ou no lago Piassino (na Sibéria), sendo que o último cenário seria muito mais grave porque corre para o rio que tem o mesmo nome e que é muito importante para a região.
O derrame aconteceu quando um dos tanques de combustível da fábrica de energia Ntek - pertencente a uma subsidiária da gigante de mineração russa Norilsk Nickel - rebentou na semana passada, provocando a fuga de 20.000 toneladas de petróleo.
A situação foi considerada como o pior acidente ecológico com hidrocarbonetos na região pelas organizações ambientais, que estão a ajudar a limitar os danos, num contexto dificultado pelos acessos limitados ao local e pela profundidade do rio, que impede operações de barco.
Putin declarou estado de emergência na região
O Presidente russo, Vladimir Putin, declarou na quarta-feira o estado de emergência e criticou publicamente os responsáveis locais, incluindo o presidente da subsidiária da Norilsk Nickel que demorou a reagir e que acabou por dizer que não tinha havido qualquer falha por parte da empresa.
Pergelissolo está a derreter, afirma empresa
O presidente da fábrica alegou que o tanque foi danificado quando os pilares embutidos no pergelissolo começaram a afundar devido às mudanças climáticas, que estão a derreter o gelo do Ártico mais depressa do que o previsto.
Um especialista da organização ambiental WWF, Alexei Knijnikov, disse, no entanto, que a lei russa exige que qualquer tanque de combustível poluidor seja cercado por uma estrutura de contenção, o que, segundo garantiu, teria evitado o acidente.
"Grande parte da responsabilidade recai sobre a empresa", acusou a WWF.
Rússia vai rever infraestruturas no Ártico
A Rússia ordenou hoje uma revisão de todas as infraestruturas assentes no solo do Ártico, depois do derrame ter sido justificado com o facto de o solo estar a derreter.
"O procurador-geral da Rússia, Igor Krasnov, ordenou que sejam feitas verificações profundas às infraestruturas com pilares embutidos no pergelissolo para evitar que se repitam situações" como a desta semana, indicou o Ministério Público russo em comunicado.
Restabelecimento do ecossistema "levará décadas"
Segundo o Serviço de Emergência Marítima da Rússia, especializado nestes acidentes, o trabalho para parar a dispersão do petróleo naquela área da Sibéria, muito isolada e pantanosa, constituiu um desafio complexo que se vai prolongar durante a limpeza.
"Nunca tinha havido um derrame desta escala no Ártico. Temos de trabalhar muito rapidamente porque o combustível dissolve-se na água", explicou o porta-voz do serviço, Andreï Malov.
Também a organização ecológica Greenpeace Rússia afirmou que este foi o primeiro acidente a uma tão grande escala no Ártico, mesmo quando comparado com o naufrágio do Exxon Valdez, no Alasca, em 1989.
Segundo o porta-voz da Agência russa de Pesca, Dmitri Klokov, o restabelecimento do ecossistema "levará décadas", sublinhando que "a escala deste desastre está a ser subestimada".
O governador da região admitiu que só se apercebeu da extensão real do derrame dois dias depois do acontecimento e através das redes sociais.
Um responsável da empresa detido
Três investigações criminais foram, entretanto, abertas, até porque, segundo o Ministério Público, o petróleo poluiu 180.000 metros quadrados de terra antes de chegar ao rio.
Durante a investigação, um funcionário da Ntek, Viatcheslav Starostine, foi detido.
Norilsk Nickel com historial de acidentes ambientais
Este não foi o primeiro acidente ambiental da Norilsk Nickel, um dos principais produtores mundiais de níquel e paládio – que servem para fabrico de catalisadores e baterias para veículos.
Em 2016, uma das suas fábricas derramou acidentalmente produtos químicos num rio do extremo norte, “pintando-o” de vermelho.