A ex-proprietária de uma funerária no Colorado conseguiu dissecar centenas de cadáveres e vender partes dos corpos sem permissão, enganando mais de 200 famílias. O esquema, no qual também estaria envolvida a sua mãe, decorreu entre 2010 e 2018. O processo chegou ao fim esta terça-feira após as arguidas terem sido condenadas, avança a Reuters.
Megan Hess, de 46 anos, e a sua mãe, Shirley Koch, foram condenadas a 20 e 15 anos de prisão, respetivamente, por venderem partes de cadáveres sem o consentimento de familiares. As arguidas declararam-se culpadas do crime.
Nos Estados Unidos da América, é ilegal vender órgãos humanos para transplante. Já a venda de partes como a cabeça, braços, pernas e coluna - que foi o que Hess fez - para investigação ou educação não é regulamentada por lei federal.
Hess dirigia a funerária Sunset Mesa, em Montrose, no Colorado. Em oito anos, conseguiu dissecar 560 cadáveres.
Cerca de 200 famílias foram enganadas sobre as cremações
Depois de cobrarem 1.000 dólares (cerca de 942 euros) pelo serviço, Hess e Koch entregavam aos familiares cinzas de diferentes cremações. No caso de os familiares não conseguirem suportar o custo da cremação, davam a possibilidade de doarem o cadáver em troca do pagamento.
Sem consentimento e recorrendo também a formulários falsos, Megan Hess vendia braços, pernas e cabeças através da Donor Services, uma empresa operada pela própria. As empresas de investigação que compravam as partes do corpo não sabiam que tinham sido obtidas de forma fraudulenta.
"Hesse e Koch usaram a casa funerária para roubar partes dos corpos, usando formulários de doadores falsos e fraudulentos", disse o procurador Tim Neff. "A conduta de Hesse e Koch causou imensa dor emocional para as famílias e parentes próximos".
Enquanto isso, a mãe, Shirley Koch, também implicada no esquema, desempenhava o papel de desmembrar os cadáveres, mostram os registos apresentados em tribunal.
Um caso “macabro”
O caso surgiu após uma série de investigação da Reuters sobre a venda de partes do corpo nos Estados Unidos, uma indústria não regulamentada.
Os antigos trabalhadores da Sunset Mesa revelaram à agência de notícias que Hesse e Koch realizavam desmembramentos não autorizados e, algumas semanas depois da história ter sido publicada, o FBI invadiu a funerária.
Esta terça-feira, os procuradores enfatizaram a "natureza macabra" do esquema de Hesse e descreveram o caso como um dos mais significativos na história recente dos Estados Unidos.
De acordo como a juíza distrital, "é preocupante que Hess se recuse a assumir qualquer responsabilidade pela sua conduta".
O advogado de Hess disse que a cliente foi injustamente difamada, responsabilizando as suas ações com uma lesão cerebral traumática, sofrida aos 18 anos.