Demasiado ocidentalizada, demasiado instruída, demasiado desafiadora. A última vez que foi vista assinalou também o último ato em que desempenhou o papel de primeira-dama de Marrocos: participava na inauguração do Museu Yves Saint Laurent, em Marraquexe. Está desaparecida desde dezembro de 2017. Salma Bennani, nome de solteira, é apelidada pela imprensa internacional como "princesa fantasma".
UM CASAMENTO POR TERMINAR
Conheceu o marido em 1999, quando foram apresentados numa festa. Apaixonou-se e acabou por se casar três anos depois, com Mohammed VI. Viu o nome passar de Salma Bennani para Lalla Salma e ganhou o título de princesa consorte, algo inédito até então. Teve dois filhos, Lalla Khadija, de 16 anos e o sucessor ao trono, o príncipe Moulay Hassan, de 20 anos.
Em mais de 15 anos de matrimónio, participou inúmeras vezes em eventos públicos, muitos em representação da casa real marroquina. A princesa marcou também presença em várias cerimónias no estrangeiro, como é o caso do casamento dos príncipes de Gales, William e Kate Middleton, em 2011, o enlace do grão-duque herdeiro Guillaume e Stéphanie do Luxemburgo no ano seguinte e a coroação do rei Willem-Alexander dos Países Baixos, em 2013.
Apesar de ser dada como "desaparecida" há quase três meses, foi apenas em 2018 que surgiram os primeiros rumores de divórcio, de tal forma fortes, que chegaram a ser notícia, inclusivamente, na revista Hola. A ausência óbvia de Lalla num dos momentos mais complicados de saúde do Rei, deu o mote para a suspeita. Depois de uma delicada cirurgia ao coração num hospital em Paris, os representantes do monarca divulgavam a fotografia que marcava os primeiros dias de recuperação de Mohammed VI: nesta apenas constava o Rei, os irmãos e os filhos.
EXCESSIVAMENTE À FRENTE DA TRADIÇÃO
A notícia dum eventual divórcio foi encarada com satisfação pelos marroquinos. Apesar de ser figura constante nas capas de jornais ou revistas, Lalla nunca conseguiu ser uma figura consensual perante os súbditos.
Determinada a marcar pela diferença, desde o primeiro dia de casamento que conseguiu romper com a tradição: foi proclamada princesa ou alteza real e tornou-se na primeira a ser vista em público e a deixar-se fotografar.
Os rasgos com as convenções assumiram nova forma e assustaram os mais conservadores, quando apareceu pela primeira vez em público sem o tradicional 'hiyab' (véu que cobre o cabelo) e que é tanto um símbolo como um requisito fundamental para os mais de 90% de muçulmanos no país.
De fora do recato do véu ficavam os longos caracóis ruivos, que deixavam assim a elegância de Lalla ainda mais exposta. Além das joias que salientavam a pele clara, a princesa dava ainda prioridade a roupas mais próximas da cultura e do estilo ocidental.
Até a formação, em excesso para alguns, causava desconforto. Licenciada em Engenharia da Computação, era descrita pela imprensa como "super culta".
PARADEIRO ALVO DE TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO
Além da hipótese de morte, sem causa ou contexto, sucedem-se os avistamentos que vão servindo a curto prazo para justificar a ausência mais que notada da princesa até serem, um por um, descartados por falta de provas ou de qualquer tipo de confirmação da Casa Real de Marrocos.
Uma das hipóteses que ganhou mais força data de 2019, altura em que a princesa terá sido vista em Rabat, ao lado da filha, a princesa Lalla Khadija, numa visita surpresa ao Centro de Oncologia Beni Mellal e, posteriormente, num almoço num restaurante local.
Por um lado, o Palácio Real de Rabat, a capital do país, poderá ser a casa de Lalla. Os relatos dão conta de que a princesa vive sem acesso ao exterior e limitada a conviver apenas com um pequeno número de pessoas, todas selecionadas pelo Rei. Ainda no ano passado, o jornal Assahifa noticiava que a princesa comemorou o aniversário na propriedade real.
Por outro lado, um jornalista marroquino garante que a viu em Portofino, em Itália. Mas há também quem acredite que está a viver exilada nos Estados Unidos ou na Grécia. E terá sido precisamente na nação considerada como o berço da civilização ocidental, que os meios de comunicação gregos afirmam que está instalada, depois de comprar a ilha de Kea, avaliada em quase 4 milhões de euros.
Apesar das teorias, o desaparecimento de Lalla Salma não suscitou grande curiosidade aos marroquinos. Vindos de uma tradição em que as mulheres não costumam fazer muitas aparições públicas, como é o caso da sogra da princesa, mãe Mohamed VI, que nunca foi vista nem sequer se sabe se ainda é viva.