A menina, com horas de vida, foi colocada pela mãe num dos ‘berços da vida’ em Bérgamo, na Itália. Junto à bebé, os socorristas da Cruz Vermelha encontraram uma mensagem emotiva, que partilharam nas redes sociais de forma a alertar para a existência destas estruturas, espalhadas por todo o país, e “graças às quais tantas crianças podem ser salvas”.
“Nasceu esta manhã, 03/05/2023. Em casa, só eu e ela (como nestes nove meses). Desejo-lhe toda a sorte e felicidade do mundo. Confio-vos uma parte importante da minha vida que, certamente, nunca esquecerei”, escreveu a mulher.
A bebé já tem nome, que recebeu dos dois socorristas da Cruz Vermelha que responderam ao alerta dado pelo ‘berço da vida’. Chama-se Noemi, encontra-se no hospital, mas está bem de saúde e pesa 2,9 quilos.
Foi a primeira vez, desde a instalação da estrutura em Bérgamo, que esta foi ativada. O ‘berço da vida’ tem aquecimento, um sistema de segurança que tranca a porta para proteção da criança, monitorização 24 horas e ainda um sensor que ativa os meios de emergência assim que um bebé é lá deixado.
Segundo caso em menos de um mês
O caso de Noemi é o segundo a ser noticiado em Itália em menos de um mês. No domingo de Páscoa, um menino, chamado Enea, foi deixado pela mãe, também acompanhado por um bilhete, num ‘berço da vida’ instalado junto a um hospital de Milão.
“Olá, o meu nome é Enea. Nasci no hospital porque a minha mãe queria ter a certeza de que tudo estava bem e queria estar comigo o maior tempo possível. A minha mãe ama-me, mas não pode tomar conta de mim”, lê-se na mensagem, divulgada pelos meios de comunicação social locais.
Um debate aceso e a memória da roda dos expostos ou enjeitados
Desde que foi noticiado o caso de Enea, gerou-se um debate em Itália sobre a existência destas estruturas e também sobre a possibilidade, prevista na lei do país, de uma mulher poder dar à luz no hospital de forma anónima. Isto é, não registar o bebé como seu filho.
Tem depois um período de 10 dias para reconsiderar a decisão, findos os quais o bebé é encaminhado para uma família de acolhimento.
Com esta possibilidade, houve quem questionasse se ainda se justifica a existência de ‘berços da vida’ e recordasse como estes fazem lembrar a roda dos expostos ou enjeitados.
Estas rodas, que surgiram nos séculos XII e XIII na Europa (inicialmente em França e Itália), existiam sobretudo em conventos e eram, de facto, rodas instaladas em paredes, nas quais podiam ser deixados os bebés, habitualmente fruto de relações fora do casamento.
Rodando o dispositivo, a criança era recolhida pelos religiosos, já dentro das paredes do convento. Muitas vezes, existiam sinetas para que quem deixasse um bebé na roda pudesse dar o alerta e este ser, de imediato, recolhido.