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Amnistia de independentistas catalães tem hoje votação decisiva no parlamento de Espanha

Os partidos de esquerda, nacionalistas e independentistas que apoiam a amnistia têm maioria absoluta no Congresso dos Deputados, mas a "lei de amnistia para a normalização institucional, política e social na Catalunha" terá ainda de ir ao Senado, onde há maioria absoluta do Partido Popular.
Amnistia de independentistas catalães tem hoje votação decisiva no parlamento de Espanha
Europa Press News

A amnistia dos independentistas da Catalunha dá esta terça-feira um passo decisivo no parlamento de Espanha com a votação pelo plenário dos deputados, onde à partida terá o apoio de uma maioria absoluta.

Os partidos de esquerda, nacionalistas e independentistas que apoiam a amnistia têm maioria absoluta no Congresso dos Deputados (a câmara baixa do parlamento espanhol), mas a "lei de amnistia para a normalização institucional, política e social na Catalunha" terá ainda de ir ao Senado (câmara alta), onde há maioria absoluta do Partido Popular (PP, direita).

O Senado espanhol não tem poder de vetar leis aprovadas pelos deputados, mas tem mecanismos para atrasar a entrada em vigor por um período que pode chegar a dois meses.

A amnistia abrangerá pessoas envolvidas no movimento de autodeterminação da Catalunha entre 2011 e 2023, o que inclui o referendo ilegal e a declaração unilateral de independência de 2017.

O então presidente do governo regional, Carles Puigdemont, que vive na Bélgica desde 2017 para fugir à justiça espanhola, é uma das pessoas que beneficiará da amnistia e foi um dos nomes que negociou a lei com o Partido Socialista (PSOE), em troca da viabilização, em novembro passado, de um novo Governo de Pedro Sánchez.

O líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, declarou uma "ofensiva sem quartel contra o Governo" liderado pelo PSOE, a quem acusa de ceder a chantagens dos independentistas e atacar o Estado de direito para se manter no poder, e tem promovido iniciativas de contestação à amnistia dentro e fora de Espanha, nas instituições e tribunais europeus.

A Comissão Europeia pediu informações a Espanha sobre a amnistia e o comissário com a pasta da Justiça, Didier Reynders, reiterou na sexta-feira que Bruxelas continua a acompanhar com atenção o caso, mas não vai posicionar-se sobre cada "nova etapa", aguardando "o final do debate".

Associações de juízes têm igualmente assumido a oposição à amnistia, assim como dirigentes históricos do próprio PSOE.

A lei de amnistia passou as últimas semanas em apreciação parlamentar a nível de comissão e foram introduzidas já algumas alterações à versão original que têm tido, uma vez mais, Carles Puigdemont como protagonista.

Entre essas alterações está o alargamento do âmbito da amnistia, para abranger crimes de terrorismo desde que não tenham "causado violações graves de direitos humanos de forma manifesta e com intenção direta".

Puigdemont foi envolvido no ano passado, depois de conhecida a proposta de lei da amnistia, em alegados crimes classificados como de possível terrorismo por um juiz que tem a tutela de investigação de manifestações em 2019 na Catalunha.

"Não há terrorismo bom ou mau. O que há é um Governo nefasto que não tem vergonha", disse no domingo Alberto Núñez Feijóo, numa manifestação em Madrid que mobilizou 70 mil pessoas segundo o PP (45 mil segundo as autoridades).

O PP acusou os socialistas de serem "cúmplices de terroristas" e o PSOE respondeu que a lei respeita os tratados europeus sobre terrorismo e direitos humanos e só abrange o processo independentista catalão, além de insistir no objetivo de "recuperar a convivência" na Catalunha e entre a região e o resto de Espanha.

"Sejamos sérios. Alguém acredita que é comparável o processo independentista com o terrorismo que sofreu Espanha durante décadas? O que todos entendemos por terrorismo, o que Espanha sofreu durante décadas de terrorismo, isso está fora da amnistia", disse na semana passada o ministro da Justiça, Félix Bolãnos, numa referência ao grupo terrorista ETA, que defendia a independência do País Basco.

Num momento em que se sucedem despachos judiciais e alterações à proposta de lei da amnistia que parecem ser respostas e contra-respostas entre as duas partes, os deputados podem ainda introduzir mudanças no diploma até à hora da votação no plenário, prevista para o período da tarde.