A NATO deverá aprovar o alargamento da Aliança Atlântica ainda antes da cimeira de líderes, marcada para o final de junho em Madrid. Concluída a aprovação política, inicia-se o processo de ratificação pelos 30 membros da Aliança. É nessa fase que a Turquia pode deitar por terra o processo de adesão da Suécia e Finlândia, opondo-se à entrada dos países nórdicos. A adesão de novos países tem de ter o apoio unânime de todos os países da organização.
A posição do Presidente turco é conhecida: Recep Tayyip Erdogan disse que a entrada da Finlândia e da Suécia na NATO é “um erro” e reforçou que não “vale a pena” tentarem convencer a Turquia a aprovar as candidaturas da Finlândia e da Suécia à Aliança Atlântica. No entanto, os chefes da diplomacia da NATO têm afirmado que será possível levar o processo a um bom porto.
A Turquia poderá aproveitar a posição de força para fazer exigências aos países nórdicos, aos membros da NATO e até aos países da União Europeia. A Bloomberg falou com três altos funcionários, sob condição de anonimato, sobre as questões que o Governo turco poderá utilizar como moeda de troca. Estas são os pontos sensíveis para a Turquia:
Curdos
A posição da Finlândia e Suécia sobre a questão curda será central nas negociações. Ancara insiste que os novos candidatos à adesão da NATO devem reconhecer as preocupações com as milícias curdas, tanto dentro do seu território como na Síria e no Iraque.
Este tem sido um ponto de tensão mesmo dentro da NATO. Embora todos os membros reconheçam o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), a guerrilha curda da Turquia, como uma organização terrorista, há países que apoiam, até com armamento, o seu ramo sírio, o YPG, na luta contra o Estado Islâmico.
A Turquia exige que a Suécia e a Finlândia denunciem publicamente o PKK e todos os seus afiliados antes de ingressarem na Aliança. Designar o PKK como uma organização terrorista não será suficiente para os dirigentes turcos: Erdogan diz que os países nórdicos mantiveram uma política de “acolhimento de guerrilheiros curdos” que agora terá de ser revertida.
“Os países escandinavos, infelizmente, são quase como casas de hóspedes de organizações terroristas”, afirmou o presidente turco.
Exportação de armas
Erdogan também quer que a Suécia, a Finlândia e outros membros da União Europeia levantem as restrições à exportações de armas que impuseram à Turquia depois do seu envolvimento na luta contra os combatentes curdos na Síria, em 2019.
O comércio de armas entre a Turquia e os dois países nórdicos é insignificante, de acordo com a Bloomberg, mas Ancara não aceitará expandir a Aliança a países que estão a bloquear a venda de armamento. Mevlut Cavusoglu, o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, já disse que as restrições de armas “vão contra o espírito” da NATO.
Erros passados? Turquia “escaldada” com a Grécia e Chipre
Na década de 1980, a Turquia aceitou o regresso da Grécia à NATO depois de os dois países terem travado uma guerra em 1974 por causa do Chipre. A posição tomada na altura pela Turquia é agora vista como um erro. A tensão entre os países nunca foi apaziguada, com a Grécia e o Chipre a posicionarem-se várias vezes contra a Turquia.
Os dois países colocaram obstáculos à candidatura da Turquia à União Europeia, rejeitaram uma votação na ONU sobre um plano de unificação para o Chipre e estiveram envolvidos em disputas territoriais.
Outras exigências
De acordo com os três altos funcionários turcos, a Turquia quer ter acesso a caças F-35, que foi impedida de comprar depois de ter adquirido sistemas de defesa antimísseis à Rússia. Também há um pedido aos Estados Unidos para a compra de caças F-16 e kits para a atualização da frota.
Em relação à Rússia, é expectável que Erdogan mantenha a amizade com o Presidente Vladimir Putin e procure manter-se num meio termo, servindo como mediador entre a Rússia e a Ucrânia. Para o Presidente turco é fundamental manter os laços com o Kremlin, para garantir a proteção das tropas russas posicionadas na Síria.