Figura central do moderno cinema alemão, Wim Wenders (n. 1945) é um autor que sempre cruzou a fidelidade às suas raízes europeias com a atracção cinéfila pelos EUA. O exemplo de “Paris, Texas” (Palma de Ouro de Cannes/1984) será o símbolo mais universal da sua dinâmica criativa. Em qualquer caso, antes desse título, são várias, e muito significativas, as incursões de Wenders pelo imaginário cultural americano — com especial destaque para “O Amigo Americano” (1977), um dos seus filmes agora disponíveis numa plataforma de streaming.
Em tom de "thriller" intimista, trata-se de uma adaptação de “Ripley’s Game”, de Patricia Highsmith, terceiro título de um quinteto de romances que a escritora dedicou à personagem de Tom Ripley, assassino sempre envolvido nos circuitos de falsificação de objectos artísticos. Curiosamente, este mesmo romance seria filmado por Liliana Cavani, em 2002, conservando o título original (entre nós lançado como “O Jogo de Mr. Ripley”).
Ripley e Jonathan Zimmermann, um especialista em restauro de pintura, são as personagens centrais de uma teia de manipulações e crimes que, perversamente, prolonga o comércio marginal dos objectos artísticos. A saber: qual o original, qual a cópia? Que é como quem diz: quem mente, quem diz a verdade?
Zimmermann é interpretado por Bruno Ganz, presença emblemática do cinema de Wenders — em 1987, seria um dos anjos de “As Asas do Desejo”. No elenco encontramos várias figuras lendárias de Hollywood: desde logo, Dennis Hopper no papel de Ripley (dois anos antes da sua participação em “Apocalypse Now”) e ainda os realizadores Nicholas Ray e Samuel Fuller. Nesse período, Wenders acompanhou de perto a grave situação de saúde de Ray, acabando mesmo por realizar um filme sobre o seu período final: chama-se “Nick’s Movie - Um Acto de Amor” (1980) e está disponível em edição em DVD.