Na história da música popular, há um capítulo muito especial da música em palco. E no interior desse capítulo, há ainda uma outra história que nos dá conta das relações artísticas e comerciais de música e cinema. Dito de outro modo: o chamado “filme-concerto” define um território específico, recheado de momentos fascinantes.
“Stop Making Sense” não foi, como é óbvio, o primeiro “filme-concerto”, mas não há dúvida que ocupa um lugar particular na história do género. Digamos que se trata do “oposto” de um clássico como “Woodstock” (1970), de Michael Wadleigh. Assim, o filme de Wadleigh foi produzido e rodado a partir de um acontecimento exterior — tratava-se de dar conta da grandiosidade, hoje em dia lendária, do evento de “três dias de paz e música”. Em “Stop Making Sense” deparamos com um espectáculo de palco, no Hollywood Pantages Theatre (Los Angeles), em Dezembro de 1983, concebido já a pensar no seu registo cinematográfico.
Estamos, afinal, perante uma reunião de notáveis: no palco surgem os Talking Heads, numa altura em que a banda de David Byrne lançava “Speaking in Tongues”, o seu quinto álbum de estúdio; a dirigir as câmaras está Jonathan Demme, oito anos antes do lendário “O Silêncio dos Inocentes”, mas já com uma filmografia importante que incluía, por exemplo, a comédia dramática “Melvin e Howard” (1980).
Lançado em 1984, agora disponível numa plataforma de streaming, “Stop Making Sense” resultou de filmagens registadas ao longo de três concertos. Para lá da excelência musical, a sua energia provêm, por um lado, da performance teatral de Byrne e, por outro lado, da agilidade da montagem de Demme, superando as convenções televisivas da época. Aqui fica o exemplo do clássico “Once in a Lifetime”.