A CES, que tem lugar todos os anos em Las Vegas, nos EUA foi um exercício de resiliência e coragem, num momento em que a Variante Omicron é responsável por mais de um milhão de novos casos diários de Covid-19 no país. Mesmo antes de entrar no Centro de Congressos de Las Vegas, percebi as diferenças.
A cidade do jogo mostrava-se a meio gás, com menos participantes na convenção e também menos jornalistas. As regras também mudaram. Testes diários para quem frequentava os espaços da CES, máscara obrigatória e um esforço para manter o distanciamento social. Foram várias as marcas que optaram por ficar de fora, como a Google, a Microsoft, a IBM ou a Mercedes. Mas, as empresas que apostaram e arriscaram, aproveitaram também a menor concorrência para mostrar o melhor que estão a fazer. É fácil perdermo-nos na CES, tal a dimensão do evento. Por isso, concentrei-me na área da mobilidade, onde várias propostas mostram que a forma como nos deslocamos está a mudar e vai continuar a mudar.
A Hyundai levou a Las Vegas um novo conceito de transporte: a Metamobilidade. A gigante coreana quer desenvolver uma plataforma de transporte que tem uma base simples, composta por quatro rodas (um novo pneu sem ar da Hankook), um motor elétrico e um pequeno pack de baterias.
A ideia é que esta base possa ser adaptada a diferentes carroçarias, desde um veículo monolugar, até a um pequeno transportador autónomo para encomendas. Todos eles, destinados a utilização na malha fina urbana, de onde é preciso retirar os automóveis. Mas a Hyundai vai mais longe.
Em Junho do ano passado, a empresa adquiriu a Boston Dynamics, líder da área da robótica. E a robotização é uma componente importante da metamobilidade, onde o real e o virtual se conjugam. Quando tudo isto vai ser posto em prática não se sabe, mas a Hyundai mostrou na CES que todos estes elementos já funcionam e estão a ser testados.
No setor automóvel propriamente dito, a Hyundai Mobis, empresa do grupo coreano dedicada a soluções de mobilidade, mostrou duas soluções que têm por base uma nova plataforma PnD (Plug’n’Drive): o M-Vision Pop (passageiros) e o M-Vision To Go (comercial). São 100% elétricos, o smartphone funciona como chave e “coração” do carro, as rodas viram a 90º e pode ter condução autónoma.
Também a BMW mostrou tecnologia para impressionar. Com o BMW iX Flow, a marca alemã mostrou um SUV que muda de cor. Sem adiantar se vai mesmo produzir esta solução, a BMW esclarece que os painéis que mudam de cor são idênticos aos que se encontram num e-reader como o Kindle. Mas os alemães mostraram também a próxima aposta em matéria de infoentretenimento: o destaque vai para um ecrã com 31.3” e resolução até 8K. Claro que se destina aos bancos de trás e a veículos topo de gama com grandes dimensões. Nos ecrãs da frente, cada vez maiores, também há novidades.
Os My Modes evoluem para lá dos tradicionais Sport, Efficient e Personal. A caminho estão os modos Relax e Expressive, com novos modos a surgirem mais à frente. A BMW revelou ainda o novo iX60M. Sim, é um M 100% elétrico. Faz 3,8s dos 0 aos 100km/h e anuncia uma autonomia de 575km. O som do motor elétrico é obra do compositor Hans Zimmer. Coisas da eletrificação.
Para fechar o meu TOP 3 da CES 2022 escolhi uma das notícias que mais comentários gerou: o anúncio da Sony de que vai criar, já na próxima primavera, uma empresa designada Sony Mobility. A tecnológica japonesa mostrou em Las Vegas o protótipo do S 02, um SUV 100% elétrico, depois de em 2020 ter surpreendido ao revelar o S 01, um sedan de luxo. Há dois anos a empresa tinha apenas o objetivo de reunir num automóvel toda a tecnologia que desenvolve para o setor.
Só que as reações positivas levaram a Sony a repensar a estratégia. Agora, o objetivo é mesmo produzir estes dois carros. O S 01 já está em fase de testes. É expectável que a empresa queira chegar ao mercado antes do lançamento (ainda sem confimação) do carro da Apple.
Uma nota final para a ausência da Mercedes, que preferiu manter a presença virtual na CES. A marca alemã revelou o protótipo EQXX, um veículo com aerodinâmica aprimorada e com uma autonomia acima dos 1000km. O consumo fica abaixo dos 10kWh/100km, num estudo que pretende ser a nova referência em matéria de economia no segmento superior e sem concessões em matéria de luxo e refinamento.
O que ando a conduzir
Porsche Boxster 25
A Porsche celebra os 25 anos do Boxster com uma edição limitada a 1250 unidades. O visual é inspirado no protótipo revelado no salão de Detroit em 1993. O motor é o seis cilindros 4.0 com 400cv que já conhecemos da gama atual do 718 e que é derivado da gama de motores do 911. Faz 4,0 segundos dos 0 aos 100km/h, num automóvel que mostra bem como o Boxter evoluiu. O som do motor por vezes é um pouco artificial (tem botão para acentuar a sonoridade dos escapes) mas melhora quando sobem as rotações. E podem subir acima das 7 000r.p.m.
Um carro muito divertido, a pedir dias de verão para abrir a capota que, aos 25 anos, já é 100% elétrica.
Kia Sorento
O SUV topo de gama da marca coreana foi um dos destaques do final de 2021. Tem versões de 5 e 7 lugares, o interior desta nova geração está mais refinado e entre as motorizações conta com um competente bloco diesel 2.2 com 202cv. Mas a principal novidade é o bloco a gasolina híbrido 1.6 com potência combinada de 229cv e consumos idênticos ao turbodiesel.
Volvo XC40 T4 Recharge
A Volvo continua o caminho da eletrificação com uma proposta híbrida plug-in mais acessível para o XC40. O motor a combustão e o motor elétrico têm uma potência combinada de 211cv e a autonomia anunciada é de 50km, mas no teste que realizei nunca consegui fazer mais de 40km. De resto, é um Volvo, ou seja, exímio na segurança e com bons níveis de conforto e refinamento.
Volkswagen ID. 4
Depois do ID.3, a Volkswagen surge com o ID.4, um elétrico com mais espaço que o irmão mais novo. É impossível não gostar desta nova proposta, familiar e com bagageira generosa de 543 litros. A versão com bateria de 77kWh tem autonomia até 500km. O ID.4 carrega em AC até 11kW e em DC até 125kW. É pena que a Volkswagen não tenha equipado o ID.4 com carregador interno mais rápido, mas compensou com uma experiência de condução muito agradável e com uma insonorização muito bem conseguida.