No início da manhã do dia 2 de janeiro, muitos de nós apercebemo-nos que os sites da IMPRESA estavam em baixo. Algumas versões de browsers informavam que a página a que tentávamos aceder não era segura e aqueles que ainda assim insistiam em avançar deparavam-se com uma página que dizia que o site tinha sido atacado. Percebia-se que essa página tinha sido editada pelos criminosos que afirmavam reclamar um pagamento para reporem o normal acesso ao site.
Pouco tempo depois, as equipas técnicas da IMPRESA tinham retomado o acesso aos seus endereços web e podiam informar que os sites estavam em baixo e que os seus users poderiam continuar a ser informados através das redes sociais.
Não se conhecem ao dia de hoje as motivações para este crime, e eventualmente nunca se virão a conhecer, nem importa que afinal não tenha sido pedido nenhum pagamento à IMPRESA. O que importará é tentar perceber porque é que estes crimes acontecem e qual o seu real impacto no longo prazo.
É comummente aceite que tudo o que a sociedade considera crime não tem justificação. Claro que pais que roubam comida para alimentarem os filhos, ou outros exemplos extremos são exatamente a exceção que confirma a regra. Quando por isso se tenta perceber a motivação do crime informático deveremos partir do princípio que não o devemos aplaudir em qualquer forma. Se algum se deve considerar no âmbito da tal exceção é uma discussão longuíssima.
Em 2006 Julian Assange lançava com outros a Wikileaks, uma organização sem fins lucrativos que tinha como missão publicar fugas de informação garantindo o anonimato das suas fontes. A história de Julian Assange ainda está longe do seu fim, mas é um excelente exemplo que divide as opiniões.
Quando por isso se tenta perceber a motivação do crime informático deveremos partir do princípio que não o devemos aplaudir em qualquer forma.
De um lado estão aqueles que reclamam que a sociedade tem que respeitar sempre a lei e quando se entender que a lei já não está atual ela deve ser alterada. Mas se aceitarmos que cada um decida se a lei está correta e se deve por isso ser respeitada, estaremos a concordar com uma sociedade sem lei. É fácil percebermos que não há pior cenário.
Mas também deveremos tentar entender porque Julian Assange, Edward Snowden ou o mais próximo Rui Pinto, dividem opiniões. Do lado de quem advoga que essa é a única forma de romper o sistema está o argumento de que as leis são feitas por quem o domina e esta forma de resistência não é apenas defensável como é a única possível. Creio que todos temos a tentação de aceitar parte do argumento mas, para a maioria, a ideia de uma sociedade sem lei volta a ser o pior cenário.
Será ainda assim natural que muitos dos ataques informáticos tenham tido origem nesta motivação anti-sistema e alguns deles apenas, pelo seu mediatismo, para funcionarem como forma de recrutamento de jovem talento. Na grande maioria dos casos estas organizações pelo seu próprio secretismo não têm cadeias de comando bem definidas e desenvolvem-se caoticamente, o que nos impede de tentar entender o racional que lhes está subjacente.
O grupo de hackers Anonymous formado logo em 2003 é talvez um dos melhores exemplos desta fação. Basta irmos ao blog da Anonymous Portugal e encontramos o argumento de que o que fazem não é crime mas apenas um forma de protesto.
Sempre houve e sempre haverá crime, mas quando se sente o apoio que sentimos não devemos duvidar que no fim ganham os bons.
A criptomoeda trouxe no entanto uma nova forma de crime informático. Protegidos pelo anonimato que essa transação permite, passou a ser mais fácil exigir pagamentos ou encomendar ataques.
Independentemente da motivação há um enorme impacto que estes crimes trazem em organizações que desenvolvem a sua atividade com transparência, honestamente e através do empenho de colaboradores que acreditam contribuir para uma sociedade melhor. A destruição de valor associada é, além de significativa, resultado de um crime que não merece simpatia mas que felizmente justifica solidariedade.
A solidariedade que na IMPRESA sentimos da sociedade em geral, dos nossos telespetadores, leitores, users, subscritores, concorrentes, clientes e anunciantes, fornecedores e parceiros foi total e impressionante. Todos se mostraram disponíveis para ajudar e todos o fizeram, ora percebendo que bastava insistirem em seguir-nos ou a comprar-nos em banca, ora disponibilizando e reunindo recursos para nos apoiarem.
Pese embora o prejuízo que estes ataques trazem, a reação da sociedade não nos deixa receosos perante o futuro. Sempre houve e sempre haverá crime, mas quando se sente o apoio que sentimos não devemos duvidar que no fim ganham os bons.