Fundado em 1965, o Ballet Gulbenkian deixou um legado que transcende o território específico do bailado, uma vez que envolve o gosto da descoberta, a ousadia da experimentação e, enfim, a celebração universal da energia artística.
É tudo isso que encontramos num magnífico documentário assinado por Marco Martins, agora disponível nas salas de cinema de todo o país: “Um Corpo que Dança” (com o subtítulo: “Ballet Gulbenkian: 1965-2005”).
O menos que se pode dizer sobre o trabalho de Marco Martins é que está muito para lá das regras correntes do documentário organizado a partir de materiais de arquivo. Esses materiais são a matéria fulcral do filme, sem dúvida. Mas estão longe de se esgotar num mero inventário de factos e performances.
Recorrendo a muitas reportagens, entrevistas, etc., por vezes revelando documentos muito pouco vistos ou mesmo inéditos, “Um Corpo que Dança” consegue dar-nos a ver tudo isso através de uma pedagógica revisitação da própria história do nosso país — dos tempos marcados pela Guerra Colonial até aos primeiros anos do século XX, passando, naturalmente, pelas convulsões pré e pós-25 de abril e a consolidação da democracia.
Enfim, estamos perante um belo exercício cinematográfico: uma antologia de informações e testemunhos sobre as transformações de Portugal ao longo da segunda metade do século XX e, ao mesmo tempo, uma celebração da excelência artística do Ballet Gulbenkian.