Adriano Moreira celebra 100 anos. Foi preso político, ministro no Estado Novo, e depois, em democracia, presidente do CDS.
Marcelo Rebelo de Sousa descreve um homem "com traços de génio" que chegou sempre cedo ou tarde demais. A dedicação a Portugal é lembrada na homenagem do Presidente da República, que lembra que Adriano Moreira "há muito entrou na História, apesar de toda a sua vida ter sido feita de desencontros históricos. Chegou sempre cedo demais ou tarde demais a esses encontros", lê-se na nota publicada esta terça-feira no site da Presidência.
Marcelo Rebelo de Sousa sublinha os traços de génio, e agradece a Adriano Moreira pelos 100 anos em grande parte dedicados às Forças Armadas, à língua, à cultura e à Portugalidade.
Preso com Mário Soares
Adriano Moreira acabou na cadeia do Aljube por "ofensa à dignidade do Estado", por um processo que aceitou como advogado. Defendeu a família de um general que morreu na prisão, detido por participar num movimento de oposição ao regime salazarista - conhecido como Abrilada - em 1947. Durante o mês e meio que passou no Aljube, conheceu Mário Soares, mas, pelo que conta, só ganhou consciência política mais tarde.
Ministro de Salazar
Ainda não tinha 40 anos e foi ministro do Ultramar. Diz que fez "o possível" naqueles dois anos. Foi chamado por Salazar para a pasta, pelo trabalho já desenvolvido na área. Adriano Moreira dizia querer restabelecer a justiça social, e queria, por exemplo, criar universidades em Angola e Moçambique para preparar a independência.
Mas a passagem como ministro ficou também marcada pela reabertura do campo do Tarrafal em 1961, para receber os que lideravam os movimentos de libertação anticoloniais e independentistas em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
Saiu em dissidência com Salazar, que decidiria mudar de política, depois de ter prometido apoiar as reformas de Adriano Moreira.
Abandonou a vida política, regressou à Academia como professor no atual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.
Estava no Brasil, ao serviço da Universidade, em 1974 quando aconteceu a Revolução e foi aconselhado a não voltar a Portugal. Não voltaria durante 4 anos.
Líder do CDS, o "partido do táxi"
Ramalho Eanes reintegrou-o na Universidade, na política foi Adelino Amaro da Costa Freitas do Amaral e Narana Coissoró que o desafiaram. Chegou à liderança do CDS, quando tinha apenas 4 deputados no Parlamento. O partido, que na altura foi do táxi, nunca deixou de o consultar.
Sem CDS na Assembleia da República, e aos 100 anos, Adriano Moreira mantém a intervenção pública nos jornais e na Universidade, como reforça Marcelo Rebelo de Sousa na nota de aniversário.