O reformado Fernando Soares, de 71 anos, amarrou uma cadeira a um dos novos abrigos das paragens de autocarro do Porto, protestando contra o encosto montado na estrutura, mas a Câmara Municipal afirma que anteriormente só existia uma cobertura.
"A cadeira foi posta lá porque temos um posto de saúde a cerca de 100 metros", disse à Lusa o antigo bancário, residente na zona do Carvalhido, no Porto, relatando que as pessoas que frequentam o centro "vêm com problemas de mobilidade, bengalas e canadianas".
Em causa está a paragem junto ao número 222 da Rua dos Castelos, servida pelo autocarro 206 da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP), uma das 650 que estão a ser instaladas no Porto.
"Estão ali as pessoas com as canadianas encostadas à paragem, com grande sacrifício, e a mim custa-me porque eu moro aqui perto e vejo muitas vezes isso", contou, tendo deixado no abrigo uma nota de protesto com o seu número de telefone, caso alguém queira contactá-lo para retirar a cadeira, que está presa com um cadeado.
Um caso “insólito”?
Questionado pela agência Lusa acerca desta situação, o vereador do Urbanismo da Câmara do Porto, Pedro Baganha, considerou "insólito um cidadão queixar-se da existência de um encosto numa paragem, quando essa paragem nem sequer tinha encosto nem banco originalmente".
Porém, Fernando Soares referiu à Lusa que para quem recorre a canadianas ou uma bengala, "e que tenha problemas em estar de pé, o encosto faz com que as pessoas ainda desçam mais, escorreguem e têm de se sentar no chão para descansar".
"Não é viável", considerou, acrescentando que "não estorvava muito ter o assento em vez do encosto".
Pedro Baganha discorda, argumentando que as novas paragens "cumprem integralmente a legislação de pessoas com mobilidade reduzida".
"Esse abrigo não pode ter um assento lá, um banco normal, porque se tivesse, o passeio que sobrava não cumpria a legislação das acessibilidades", explica o vereador do executivo liderado por Rui Moreira.
Para o responsável, "entre ter nada ou ter um abrigo com um encosto" a Câmara prefere "ter um abrigo com um encosto, que apesar de tudo protege as pessoas".
Já sobre os abrigos invertidos, dos quais já foram instalados 16 de um total de 22, segundo adiantou a autarquia à Lusa, Pedro Baganha justifica a sua existência por "terem nas suas costas ou entradas de edifícios ou montras comerciais".
Perante as críticas à visibilidade para os autocarros nestes casos, Pedro Baganha disse que "um autocarro tem no mínimo 12 metros e um número lateral".
"Eu confesso que não compreendo essa crítica, mais a mais quando olho que o Reino Unido é todo feito com paragens deste género. Não me parece que eles percam autocarros", referiu.
"Estranhezas dos cidadãos relativamente a opções novas"
Já sobre se a autarquia admite correções, afirma que esta "não é detentora da verdade absoluta" e que "os erros serão corrigidos" sempre que for confrontada com eles.
"O que eu alerto é que a maior parte do que ouvi até agora, para não dizer tudo, não se tratam de erros, trata-se de estranhezas dos cidadãos relativamente a opções novas", ressalva o vereador do Urbanismo.
Pedro Baganha rejeita ainda a crítica de que quem desenhou as paragens não ande de autocarro, apontada à Lusa por Fernando Sousa, referindo ser "irrelevante" saber-se quantos dos "designers e engenheiros" que conceberam os abrigos "andam de metro, de autocarro ou de trotinete".
"O que interessa aqui é se o equipamento está ou não está bem desenhado", afirmou, rejeitando uma "crítica populista que não faz qualquer sentido".
Segundo dados da Câmara do Porto facultados à Lusa, já foram instalados 254 dos 650 novos abrigos previstos no âmbito da nova concessão de publicidade em mobiliário urbano, existindo anteriormente 569 estruturas.
"A instalação de todos os abrigos na cidade fica concluída até ao final do primeiro trimestre de 2023. Ainda assim, é expectável que os prazos entre a remoção e a instalação sejam encurtados", aponta a autarquia.