A SIC Notícias teve acesso à carta que a defesa de João Rendeiro endereçou ao secretário-geral da ONU, António Guterres, a alertar para as condições “terríveis” em que o antigo banqueiro está detido na África do Sul. Trata-se de uma questão de vida ou morte”, escrevem os advogados de Rendeiro.
Esta quarta-feira, ao final do dia, a carta da defesa de João Rendeiro seguirá para a ONU. Nela constam várias críticas às condições em que o antigo líder do BPP está detido na prisão de Westville, na África do Sul.
Começando por destacar que Rendeiro tem quase 70 anos e sofre de uma “condição cardíaca que requer um acompanhamento médico constante”, a advogada June Stacey Marks revela que a prisão não tem condições para fazê-lo.
“É visto por um médico na prisão apenas uma vez por semana, à quarta-feira”, lê-se na carta a que a SIC Notícias teve acesso. “Na última semana”, João Rendeiro “ficou doente, mas não foi submetido a quaisquer exames médicos. Apesar de ter tido febre alta, teve de esperar por quarta-feira para ser visto por uma enfermeira e ter o respetivo tratamento”.
Além disso, “está numa cela com mais 50 pessoas, não há roupa de cama e edredões não são permitidos“. A cela, relata ainda a defesa, não tem “água quente” e “nos 40 dias que esteve detido, por duas vezes, não houve mesmo água durante 24 horas. Também a eletricidade falha com frequência“.
Quanto a refeições, conta a advogada de Rendeiro que “são servidas duas refeições por dia, pequeno-almoço e almoço“, sendo que a partir das 15:00 e até às 7:00 do dia seguinte, os presos permanecem fechados nas celas (…) pelo que têm de guardar comida para poderem ter o que jantar”.
O antigo líder do BPP “está seguro, mas quando forçado a conviver com outros prisioneiros a situação torna-se incontrolável”, tendo já sido alvo de “tentativas de extorsão”.
“Estamos perante uma questão de vida ou de morte”, escreve a defesa, reforçando que “a idade e a saúde do nosso cliente aliadas às condições da prisão são uma bomba-relógio“. Mais, conclui a missiva: “Somos ainda instruídos [por João Rendeiro] a apontar as atrocidades e violações de direitos na esperança de ajudar outros prisioneiros” que “com frequência os presos são alvo de agressões violentas devido a alegadas infrações que cometeram”.
A defesa pede, por isso, a ação de António Guterres, solicitando que “a Comissão de Direitos Humanos da ONU faça uma inspeção à prisão de Westville o mais rápido possível para garantir que as condições são melhoradas”.
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