“Eu responderia. Não teria nenhum problema em responder a todas as perguntas se elas fossem feitas com bons modos.” É desta forma que José Sócrates reage ao pedido de informações da justiça portuguesa quanto às viagens que tem feito a São Paulo desde o ano passado.
Em entrevista exclusiva à SIC, o ex-primeiro-ministro garante que não comunicou nem vai comunicar as próximas deslocações.
“Eu não tenho de comunicar ao tribunal. Esse é o ponto. E não tenho porquê? Porque não tenho termo de identidade e residência.”
O entendimento de José Sócrates baseia-se no facto do caso em que será julgado ter sido separado do processo principal da Operação Marquês. A parte maior, com todos os crimes que caíram, ficou nas mãos do juiz Ivo Rosa e o processo menor, com os crimes que se mantiveram (seis de branqueamento de capitais e seis de falsificação de documento) ficou com a juíza de julgamento.
Sem ter sido informada das viagens ao Brasil, a magistrada pediu explicações mas obteve poucas respostas e solicitou, ao colega Ivo Rosa, o envio do termo de identidade e residência de José Sócrates. Medida de coação que obriga a que sejam comunicadas, à justiça, deslocações superiores a 5 dias.
“Se a juíza pediu, quer dizer que não o tinha. E, portanto, se não o tinha, não me pode obrigar, nem pode ir perguntar à polícia onde andei ou deixei de andar. É apenas um abuso.”
Quanto às despesas de todas as viagens, que segundo a revista Visão, acontecem desde abril do ano passado, José Sócrates garante que está a suportar os encargos sozinho. “Claro que sou eu que custeio todas estas viagens. Eu tenho trabalho, nos últimos tempos, para algumas empresas. E retomei a minha subvenção vitalícia, que me tem permitido custear todas estas despesas”, responde.
SÓCRATES REJEITA INTERESSES POLÍTICOS NO BRASIL
“Eu fui ao Brasil cumprir com as minhas obrigações académicas. Inscrevi-me num doutoramento na Universidade de São Paulo. E foi para isso que viajei, nada mais do que isso.”
Se irá estar, num futuro próximo, ao lado de Lula da Silva no Brasil (candidato às presidenciais de outubro), o antigo governante responde que não. “Cargo? Concerteza que não. Não sou brasileiro. Conselheiro? São meras maluquices.”
OPERAÇÃO MARQUÊS PARADA
Depois dos julgamentos de Armando Vara e de Ricardo Salgado (ambos condenados a penas de prisão efetiva), o de José Sócrates e Carlos Santos Silva continua parado.
Na justiça portuguesa corre o recurso do Ministério Público que contesta a derrocada de quase todo o processo.
E foram, também, colocados recursos pelos arguidos. A defesa de José Sócrates avançou com, pelo menos, cinco. O mais recente diz respeito à alteração dos factos feita pelo juiz Ivo Rosa na fase de instrução.
“O juiz criou uma nova acusação. Acontece que não pode fazer uma coisa dessas. Recorri disso e também o Ministério Público”, explica José Sócrates.
O recurso já foi sorteado no Tribunal da Relação de Lisboa e o antigo governante contesta, também, esse procedimento.
“O Tribunal da Relação sorteou uma das juízas e designou uma outra, contrariando aquilo que vem expressamente definido na lei. A lei do ano passado obriga todos os juízes a fazerem sorteios eletrónicos.”
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