Luanda, 08 fev (Lusa) -- Abílio Kamalata Numa, Secretário-Geral da UNITA, de 51 anos, general de quatro estrelas na reforma, é um dos nomes de maior peso no passado militar do "Galo Negro" e incontornável no presente e futuro político do maior partido da oposição angolana.
Kamalata Numa está em greve de fome no comando provincial da polícia do Huambo desde segunda-feira, em protesto pela detenção de um militante da UNITA, António Kaputo, pela Polícia Nacional (PN), no município do Bailundo.
Este protesto, explicou à Agência Lusa o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, é a abertura de uma nova fase na estratégia do partido para levar o executivo do MPLA a por cobro à "intolerância e arbitrariedade" com que as estruturas do poder lidam com a oposição.
Natural do Bailundo, Huambo, o general Numa, como é conhecido, entra nas Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), braço militar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), em 1974/75.
Quem o conhece fala de um militar de "primeira água" que percorreu todas as etapas da carreira militar até ao generalato, "muito respeitado" no seio militar e um homem de confiança do líder e fundador da UNITA, Jonas Savimbi, com quem se encontrava quando este foi morto em combate em 2002, no Moxico.
Esteve na linha da frente da constituição das FAA (Forças Armadas Angolanas) entre 1991 e 1992, ano em que a guerra recomeçou após as eleições que a UNITA de Jonas Savimbi considerou fraudulentas, tendo este recusado participar na segunda volta depois de José Eduardo dos Santos, pelo MPLA, ter ganho sem maioria.
Este antigo aluno do Seminário do Huambo é apaixonado por futebol e o seu clube é o Sporting Clube de Portugal.
Numa fez equipa com o general João de Matos na organização do processo de constituição das FAA.
Com o reatar da guerra, o general Numa torna-se num dos comandantes das FALA de maior peso, dirigindo os homens do "Galo Negro" no norte, nomeadamente no Kwanza Norte e Zaire, tendo sido responsável pela "tomada" do Soyo numa das batalhas mais emblemáticas da guerra em Angola entre 1992 e 2002.
No derradeiro combate de Jonas Savimbi, em fevereiro de 2002, Kamalata Numa é um dos generais presentes.
Após o fim das hostilidades entre a UNITA e as forças governamentais do MPLA, Kamalata Numa abandona a vida militar e entra no mundo da política, sendo, em 2007, nomeado secretário-geral da UNITA pelo seu presidente, Isaías Samakuva, e eleito deputado nas legislativas de setembro de 2008.
Está atualmente a concluir uma licenciatura em Administração de Empresas numa universidade brasileira e os seus amigos mais próximos lembram que parte da sua vida é dedicada aos livros.
Quem com ele lida mais próximo diz que as suas leituras centram-se nas teorias militares, tem Carl von Clausewitz e Sun Tzu como autores de cabeceira, na filosofia é um homem virado para a Grécia clássica, e é atento às ciências políticas.
De "convicções profundas", como lembram os amigos e dirigentes da UNITA Alcides Sakala e Adalberto da Costa Júnior, Abílio Kamalata Numa é "um intransigente defensor da reconciliação nacional e da democracia" para Angola.
Para o futuro político da UNITA, quem conhece o partido e Kamalata Numa garante que "todos os cenários" estão em aberto, inclusive uma candidatura à presidência do maior partido da oposição no dia em que Samakuva deixar o cargo.
RB.
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