Lusa

Transplantes pulmonares: Quando os doentes vão para casa com os médicos

Lisboa, 27 mar (Lusa) -- As histórias dos doentes com pulmões transplantados vão para casa com os médicos que não se conseguem "desligar" quando saem do hospital. "Tudo o resto é insignificante perante quem não consegue respirar", desabafa uma pneumologista.

Lisboa, 27 mar (Lusa) -- As histórias dos doentes com pulmões transplantados vão para casa com os médicos que não se conseguem "desligar" quando saem do hospital. "Tudo o resto é insignificante perante quem não consegue respirar", desabafa uma pneumologista.

"Vou para casa e levo os doentes comigo", diz à agência Lusa Luísa Semedo, a pneumologista responsável pela equipa de transplantes pulmonares do Hospital de Santa Marta, em Lisboa, o único em Portugal que realiza esta intervenção.

Perante os dias difíceis de quem precisa de pulmões novos, "tudo o resto é insignificante". "É tão pouco o que falta, perante aqueles a quem falta tudo, nomeadamente capacidade de respirar", conta.

A especialista reconhece que não é fácil estar 24 sobre 24 horas de sobreaviso, a acompanhar ou a desbloquear procedimentos para que uma nova oportunidade seja dada a estas pessoas.

Aqui chegam os que estão "na última linha". Os que, devido a doenças pulmonares, já não melhoram com a terapêutica disponível.

Estar apenas doente dos pulmões não chega para entrar na lista de espera. É preciso que a insuficiência respiratória não tenha comprometido os outros órgãos. Nem todos passam nesta triagem e não são todos os pulmões que servem para transplante.

Nos últimos anos, explica Luísa Semedo, as principais fontes de pulmões são dadores até aos 55 anos que sofreram Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC).

O órgão é, no entanto, sujeito a uma avaliação que passa, entre outras coisas, por apurar se o dador era fumador e qual a quantidade de tabaco consumido.

Por ser o único centro que realiza transplantes pulmonares em Portugal, a pressão é maior no Hospital de Santa Marta que enaltece, contudo, os bons resultados atingidos nos últimos anos.

Em 2008, este centro realizou quatro transplantes, em 2009 onze (tantos como nos anos de 2005, 2006, 2007 e 2008) e em 2010 foram feitos dez transplantes.

Este ano já se contam três transplantes e as dificuldades não passam tanto por encontrar órgãos disponíveis, mas por ter mais profissionais.

A equipa vai dando resposta, mas precisa de mais elementos, já tendo existido casos em que existia um dador, um doente, mas não a capacidade humana de realizar o transplante.

Luísa Semedo garante que os órgãos nunca são desperdiçados. Quando não são utilizados em doentes portugueses, são enviados para Espanha, país para onde também têm sido enviados doentes portugueses, ao abrigo de um protocolo firmado entre os dois países.

A médica congratula-se com os resultados dos transplantes realizados no Hospital de Santa Marta. A taxa de sobrevida ronda os 79,5% no primeiro ano após transplante e os 75% no segundo ano.

O pulmão é, contudo, o órgão que pior sobrevive ao transplante, por estar em contacto com o ar.

Ao fim de cinco anos, a taxa de sobrevida pode rondar os 50 a 60% e os 10 a 20% nos dez anos seguintes à intervenção cirúrgica.





SMM.

Lusa/Fim