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*** Susana Paula (texto) e Tiago Petinga (foto), da Agência Lusa ***
Lisboa, 25 mai (Lusa) - Joaquim Pinto é o mais antigo lojista do Apolo 70, Lisboa, que comemora 40 anos na quinta-feira. O seu cabeleireiro abriu antes da inauguração do então maior "shopping" europeu e pelas suas "tesouras" já passaram quatro primeiros-ministros.
O 'Pinto's Cabeleireiro' abriu portas ainda antes da inauguração oficial do Apolo 70, a 26 de maio de 1971. Joaquim Pinto, o dono da casa, conta que a inauguração foi "uma coisa linda", que os "porteiros estavam fardados, o chão era alcatifado, era um autêntico luxo para a época".
E foi logo a seguir ao 25 de Abril que o cabeleireiro na cave do Apolo 70 começou a receber políticos e figuras públicas. Joaquim Pinto admite que foi uma "senhora que nunca conheceu" chamada Conceição Monteiro que "começou a chamar gente". Depois foi "o passa palavra" que fez crescer a loja.
O cabeleireiro não esconde a admiração por um cliente em especial: O ex-primeiro-ministro do PSD, Francisco Sá Carneiro. "Infelizmente morreu a quatro de dezembro de 1980. Passou por aqui a 18 de novembro, antes de falecer", lamenta.
Outros três primeiros-ministros cortaram o cabelo no Apolo 70 nestes últimos 40 anos: Mota Pinto, Cavaco Silva (ambos do PSD) e Mário Soares (PS).
Joaquim Pinto lembra, entre risos, que nos primeiros anos do Apolo 70 "difícil era as pessoas passarem umas pelas outras. Como havia só este centro e era muito pequeno, vir aqui era quase uma romaria, de maneira que as pessoas custavam a caber. Às vezes era preciso saírem uns para entrarem outros".
O Apolo 70 era procurado pelas suas "inovações". Além de ser o "maior centro comercial da Europa" nos anos 1970, o novo "shopping" da capital tinha três características que hoje "existem em todo o lado", lembra o atual presidente do centro, Mário Rui Moreira: um snack-bar, um cinema e uma farmácia.
Hoje a neta do primeiro diretor farmacêutico do Apolo 70, Teresa Barbosa, lembra-se dos gelados "enormes e ótimos" do snack-bar do piso de baixo, de ir ao cinema e de "sempre ouvir falar do bowling, apesar de nunca lá ter ido".
Quarenta anos depois, já não há bowling, nem gelados, nem cinema. O "shopping" deixou de ser o maior da Europa e dos únicos de Lisboa. Perdeu lojas e clientes e a alcatifa e o "antigo aspeto de boîte" deram lugar a cores vivas e a luz. Mas o prestígio ligado à casa manteve-se.
Hugo Henriques é o mais recente lojista do Apolo 70. Abriu a sua segunda Casa de Bolos no centro há pouco mais de duas semanas e "realizou um sonho de miúdo".
"Ter uma loja no Apolo 70 sempre foi um desejo para mim pelo prestígio. Todos conhecemos o Apolo 70 como o primeiro centro de Lisboa, onde se vinha ao cinema, onde se comiam os banana splits e os grandes gelados".
Além do prestígio, o que continua a fazer parte deste centro comercial é o contacto com os clientes: "Logo de início que as lojas eram negócios familiares. O Apolo 70 acaba por ser, por isso, diferente de outros centros que conhecemos em que as lojas são geridas por multinacionais. Aqui mantém-se essa característica familiar que é normal no comércio tradicional", explica Mário Rui Moreira.
Muitos dos comerciantes continuam a ser os mesmos de há longos anos e "acabaram por criar relações de familiaridade com o cliente".
No cabeleireiro do "senhor Pinto" os políticos continuam a ser os clientes habituais e há figuras que marcaram a vida política nacional nos últimos 40 anos voltam hoje com outros cargos.
Aliás, quarenta anos depois da inauguração do Apolo 70, "muitos políticos dizem que vão ao Pinto's, mas nunca cá apareceram", ri-se Joaquim.
SYP.
Lusa/Fim.