Ataque em Manchester

Autor de poema sobre Manchester surpreendido com repercussão

O autor de um poema que se tornou "viral" sobre o impacto do atentado de Manchester na cidade mostrou esta quarta-feira surpresa com a repercussão que o texto teve.

Autor de poema sobre Manchester surpreendido com repercussão
Emilio Morenatti/ AP

Natural da cidade, Ryan Williams, que partilhou o poema terça-feira pouco antes das 06:00 na rede social Facebook, fala da tristeza causada pelo ataque, mas também da solidariedade que espera da população. "Nós vamos aprender a viver com outra cicatriz profunda/se pensam que nos conseguem vencer, não nos conhecem", lê-se no texto.

O poema saúda a diversidade cultural e usa a metáfora da abelha, símbolo da cidade e cuja origem remonta ao espírito de trabalho associado a Manchester desde os tempos da revolução industrial nos séculos XVIII e XIX, para anunciar "as abelhas ainda zumbem!".

O poema, que o autor publicou apenas a título pessoal, já foi partilhado por cerca de 15 mil pessoas no Facebook, deixando Williams surpreendido.

"Foi algo que eu escrevi para soltar os meus sentimentos numa folha. Mas nunca pensei que acontecesse isto", admitiu à agência Lusa, acrescentando, com humor, "senão tinha assinado".

O poema foi lido com emoção pelo vocalista do grupo The Courteeners, originários da região de Manchester, pelo vocalista Liam Fray na terça-feira à noite num concerto que chegou a estar em risco devido ao atentado da véspera.

Karen Wellings, que estava na assistência, partilhou o poema com dois amigos, contactaram Williams pelas redes sociais e no dia e hoje conheceram-se no centro da cidade.

Paul Gilliland imprimiu várias cópias que pediu ao autor para autografar, uma das quais foi emoldurada e colocada junto a um dos vários memoriais da cidade às vítimas do atentado, situado junto ao Cenotáfio de Manchester, um monumento a soldados mortos em combate.

"Sempre acreditei no poder das palavras, mas isto é incrível. Escreveram-me pessoas de todas as partes do mundo, que me disseram que o poema as ajudou a lidar com o que se passou", afirmou à Lusa Williams, que nunca publicou poesia antes.

Foi o caso de Louisa Whiteheade, que sentiu que o poema resumia o espírito dos 'mancunians', como são referidos os naturais de Manchester.

Muitos têm sido os que depositaram flores, velas, cartões e bonecos de peluche junto ao Cenotáfio e junto aos paços do concelho na praça Albert Square, onde terça-feira à tarde se realizou uma vigília de solidariedade com as vítimas do atentado.

Uma explosão no final de um concerto na sala de espetáculos Manchester de Arena matou na segunda-feira 22 pessoas e feriu 64, sobretudo crianças e jovens, tendo a responsabilidade sido atribuída pela polícia a um engenho explosivo detonado por Salman Abedi, de 22 anos, que também morreu.

Pela cidade, são visíveis em montras de estabelecimentos comerciais e em ecrãs eletrónicos o slogan "I love [ilustrado por um coração] MCR", ou "We love MCR", esta última a sigla de Manchester.

Têm sido feitos mais gestos para demonstrar o espírito de comunidade da cidade, como a oferta de bebidas e comida, abrigo e transporte feito pelos residentes às pessoas afetadas pelo atentado.

Outras pessoas têm tatuado a imagem da abelha de Manchester numa atitude de solidariedade e desafio ao terrorismo, uma iniciativa que pretende recolher fundos para ajudar as vítimas.

Os três admiradores de Ryan Williams garantiram à Lusa que o vão fazer no fim de semana, sendo que Whitehead vai acrescentar a última linha do poema. "Tenho 50 anos e esta vai ser a minha primeira tatuagem", confiou, orgulhosa.

Lusa