Vieira, o presidente com mais anos à frente do Benfica, desde que foi eleito pela primeira vez em outubro de 2003, teve papel decisivo, após uma época que deixara a equipa à beira de um autêntico colapso.
O Benfica chegou a maio em quase todas as frentes e em poucos dias, sofreu três desaires por 2-1, com FC Porto, Chelsea a Vitória de Guimarães, que custaram a perda do campeonato, da Liga Europa e da Taça de Portugal.
Foi um abalo tremendo para jogadores, treinador -- Jorge Jesus caiu de joelhos no Dragão, depois de ver o FC Porto marcar nos descontos -, adeptos e dirigentes, e foi preciso reabilitar a equipa, um passo que começou em Luís Filipe Vieira.
O dirigente, com dificuldades em contrariar a hegemonia do FC Porto no futebol português, não desistiu e, contra as vozes mais críticas, voltou a apostar tudo no treinador que lhe deu o título em 2009/10 e que já levava quatro épocas de Benfica.
"Há um mês era o herói do Benfica. Porque deixou de o ser", perguntou Luís Filipe Vieira, poucos dias depois de o clube iniciar a I Liga com uma derrota (1-2 com o Marítimo) e quando a contestação, sustentada pelo final da época anterior, se preparava para crescer.
A estreia parecia dar razão aos mais céticos em relação a Jesus, mas Vieira, numa entrevista ao canal do clube, colocou o dedo nos temas mais fraturantes (a continuidade de Jesus, a indisciplina de Cardozo) e reforçou-lhes a confiança.
O avançado paraguaio tinha dado um empurrão ao treinador, na derrota da Taça, mas Luís Filipe Vieira lembrou: "Não tem um passado na nossa casa? Alguma vez faltou ao respeito a alguém? O que se tinha de fazer já foi feito (o jogador foi castigado)".
Foi um murro na mesa do dirigente, que, de certa forma, serviu para desmobilizar uma manifestação que se preparava para o jogo da segunda jornada, na Luz, no qual a equipa viria a vencer, de modo muito sofrido, o Gil Vicente.
O título de hoje do Benfica é, assim, muito de Luís Filipe Vieira, tantas vezes acusado, nos quase 11 anos como líder do clube, de ter poucos troféus, apesar do apoio maciço que tem tido dos sócios (eleição após eleição).
A sociedade Vieira/Jesus tem dado frutos, sobretudo no capítulo financeiro, e o dirigente sabe disso: em cinco épocas teve encaixes substanciais, com as vendas de Fábio Coentrão, Di Maria, Ramires, David Luiz, Witsel, Javi Garcia e Matic.
No plano desportivo as conquistas no futebol não têm sido as desejadas em número, mas Vieira, que é curiosamente o 33. presidente do clube, somou hoje o seu nono troféu com o futebol principal e globalmente o 33. campeonato (o Benfica é o clube português com mais títulos).
Desde que chegou à presidência, Vieira conta três campeonatos, o de 2004/05, com Giovanni Trapattoni, e os de 2009/10 e 2013/14, com Jorge Jesus, uma Taça de Portugal (2004/05), uma Supertaça (2005), e quatro edições da Taça da Liga (2008/09, 2009/10, 2010/11, 2011/12).
Certo é que o dirigente terá sempre lugar na secular história do Benfica, face ao seu papel na recuperação financeira e da credibilidade do clube e também em dotá-lo de estruturas modernas, com novo Estádio, para o Euro2004, pavilhões, piscinas e um centro de estágio que começa a dar frutos na formação.
Entre muitos outros projetos, destaque também para a Fundação Benfica, o Museu Cosme Damião, onde pode ser revista a história do clube, e a Benfica TV, que furou o monopólio da Olivesdesportos e transmitiu os jogos caseiros do clube na I Liga.
Sob a sua presidência, subiram também o número de sócios pagantes, até a um recorde do Guinness Book, e manteve-se a filosofia de um clube eclético, o único dos "grandes" a competir em todas principais modalidades.
Foi também sob o seu comando que o Benfica chegou ao título europeu de hóquei em patins, o primeiro na sua história, quando em 2013 venceu em pleno Dragão Caixa o anfitrião e rival FC Porto (com um golo de ouro no prolongamento).
Ainda no futebol, Vieira soma três títulos de campeão, entrando numa galeria de presidentes como Augusto Júnior, Maurício Vieira de Brito ou João Santos, mas ainda longe de Borges Coutinho, o dirigente "encarnado" com mais campeonatos, sete.
Lusa