De saída da estação ferroviária de Setúbal, pelas ruas pedonais da cidade, são muitos os cartazes azuis que vemos pelo caminho. Só que o azul não é o tom certo desta campanha, não é o azul-claro-CDS.
Chegados à Avenida Luísa Todi, já há mais salpicos de cor. Uns cartazes amarelos por aqui, uns vermelhos por ali e até alguns brancos e azuis por acolá. Mas nenhum da cor certa.
A campanha não era para ter acabado assim. Quem anda na estrada encontra sempre imprevistos e desta vez foi a morte de Freitas do Amaral, o fundador, que apanhou o CDS de surpresa. O luto obrigou a ajustes de última hora e, com as cerimónias fúnebres marcadas para sexta-feira à tarde, o partido optou por encerrar a campanha mais cedo para permitir aos militantes prestarem uma última homenagem ao fundador.
E é por isso que aqui estamos, num território de Esquerda, onde o PS chegou a ganhar em 2015.
O restaurante é familiar e a comitiva não é grande - duas mesas corridas e mais uns lugares aqui e ali. São tantos como os locais e turistas que almoçam nas mesas mais junto à porta. Este era afinal para ser um almoço só de passagem, sem a pompa e circunstância pelo qual um encerramento costuma pautar.
A mudança de planos repentina ainda se faz notar. Quando um almoço informal passa a encerramento há que improvisar e preparar um cantinho para os discursos fora do guião.
Assunção Cristas chegou mais cedo do que o previsto. Se houve entrada com aplausos, não sabemos. Os jornalistas ainda não estavam cá para ver. No entanto, trouxe reforços. À direita de Cristas senta-se Nuno Magalhães, o líder da bancada. À esquerda, Paulo Portas, o antecessor. Na mesa atrás, Pedro Mota Soares, deputado e o número dois às europeias que ficou fora de Bruxelas.
Mas há algo mais que salta logo à vista de quem entra no restaurante. Vestidos de azul ou branco, são poucos os que fogem ao "uniforme" democrata-cristão, formando uma palete de cores que cria quase um efeito estético.
Isso são considerações para quem tira fotografias. Por aqui, as atenções já estão noutro lado. À mesa, está servida a salada de polvo. O choco frito - petisco típico da terra - virá mais tarde.
Lá para o fim da refeição, começam as intervenções. O tilintar do talher contra um copo, em jeito de casamento, dá sinal de que estão prestes a começar.
O primeiro é Nuno Magalhães. Numa intervenção que se impõe breve - como todas as que se seguirão - há um apelo ao voto. "Quem não está contente com a atual situação governativa, quem não quer radicalismos ambientalistas" deve votar CDS, porque - defende o deputado - se o partido perder força no distrito, quem ganha é o BE e o PAN. Há também um agradecimento "às gentes de Setúbal" que votam CDS e que “tanto trabalharam” com ele no caminho para as eleições.
Na mesma linha segue Portas. "Todos sabemos o que é fazer campanhas difíceis e surpreender nos resultados. Assim foi e assim será", afirma em jeito de elogio a Cristas. "É preciso travar o discurso de arrogância do poder", acrescenta como crítica ao PS.
E por fim vem Cristas. A líder alonga-se um pouco mais em agradecimentos individuais a quem aqui está. E depois apela também ao voto “refletido”. "Ser do CDS é ser uma voz às vezes isolada, às vezes singular, mas uma voz corajosa, naquilo que nós acreditamos", declara.
Há aplausos e um abraço de Portas, que logo a seguir saí a correr. Servem-se os cafés e, aos poucos, os militantes começam a dispersar. Informal foi sem dúvida a palavra para o fim da campanha do CDS.
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