Livrai-nos da guerra

"Há qualquer coisa que me acompanha"

O testemunho dos intervenientes na Grande Reportagem

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Valentim Dias foi mobilizado para a Guiné em 1967. Vivia na altura em Fornelos, Ponte de Lima. Dois anos depois, quando regressou, a mãe escreveu uma carta à Senhora de Fátima a agradecer. Maria da Conceição morreu há seis anos. Valentim ficou a saber da existência desta carta, escrita pela mãe para a Senhora de Fátima, após uma exposição em 2015 sobre as súplicas entregues pelos devotos, no santuário, em tempos de guerra.


Valentim ia frequentemente com a mãe a Fátima, mas não se recorda do dia em que ela lá deixou a carta. "Quando era pequeno ia com a minha mãe à igreja", recorda Valentim, admitindo que isso também o fez ter "um pouco de devoção" por Nossa Senhora de Fátima. "Eu acredito, há qualquer coisa que me acompanha", confessa.

Na Guiné ia por vezes a "uma pequena igreja" onde estava também uma imagem da Senhora de Fátima e chegou a montar um andor para fazer procissões. Sobre a experiência da guerra diz que nunca foi "assunto tabú" na família. Mas, quando partiu, não disse nada aos pais: "Não gosto de despedidas e só souberam quando já lá estava".


Não consegue evitar as lágrimas e tem de parar a entrevista quando lê pela primeira vez a carta que a mãe escreveu a Nossa Senhora de Fátima, com uma fotografia tirada na Guiné: "Valentim da Silva Dias.

Eu sua mãe, venho a vossos pés Nossa Sra de Fátima, mãe dos Portugueses e nossa agradecer-vos a graça que vos pedi do nosso filho ir para a Guiné e vir são e salvo, agora estamos aqui todos mãe e pai o filho e Sua esposa e trez meninas. Tu Sra que peças ao teu Jesus as suas graças e as vossas bençãos do Céu. Sua mãe Maria da Conceição Silva Dias".