Orçamento 2020

Centeno considera "totalmente ilegítima" dúvida da UTAO sobre suborçamentação de receitas

"A repercussão na receita de contribuições sociais (...) está obviamente feita na projeção macroeconómica do cenário que apresentámos".

Centeno considera "totalmente ilegítima" dúvida da UTAO sobre suborçamentação de receitas
ANTÓNIO PEDRO SANTOS / LUSA

O ministro das Finanças considerou hoje, no parlamento, "totalmente ilegítima" a dúvida colocada pela Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) sobre suborçamentação das receitas na proposta do Orçamento do Estado para 2020 (OE2020).

"A UTAO coloca uma dúvida totalmente ilegítima. A despesa com pessoal na administração pública cresce 3,6% em termos nominais e as contribuições sociais crescem 5,7%, crescem mais do que os salários na administração pública, ou seja, a repercussão na receita de contribuições sociais daquilo que é a evolução das remunerações da administração pública está obviamente feita na projeção macroeconómica do cenário que apresentámos", disse Mário Centeno.

Segundo o governante, que falava no debate na Comissão de Orçamento e Finanças sobre a proposta orçamental para este ano, a mesma coisa se passa nas projeções de receitas do IRS, pelo que também é "totalmente ilegítimo dizer que não estão refletidas as remunerações nessa conta".

"Basta perceber que os agregados crescem mais do que é o crescimento das despesas com pessoal na administração pública", vincou Centeno.

A análise da UTAO (gabinete técnico de apoio aos deputados) à proposta orçamental para 2020 considera que o Governo não contabilizou na proposta de Orçamento do Estado para 2020 a totalidade dos aumentos de receita resultantes de aumentos na função pública.

Segundo o relatório da UTAO, há que se acrescentar "255 milhões de euros à receita total e ao saldo orçamental previsto para 2020".

"Quer isto dizer que o saldo orçamental previsto para 2020 na Tabela 6, 533 milhões de euros, poderá estar subavaliado no montante de 255 milhões de euros [...] . Aquele valor acrescenta cerca de uma décima de PIB [Produto Interno Bruto] à meta de excedente orçamental assumida pelo Governo, mas tem uma materialidade muito reduzida quando comparado com a receita total projetada pelo MF: não chega a 0,3% dos 95.315 milhões de euros de receita total constante na referida Tabela 6", lê-se no documento.

Já do lado da despesa, a UTAO fala em riscos de suborçamentação das despesas com pessoal.

"No respeitante às despesas com pessoal, o valor orçamentado traduz um ritmo de crescimento inferior ao esperado no ano de 2019, pese embora se encontrem previstas para o ano de 2020 medidas novas e antigas de política remuneratória que requerem mais despesa nesta rubrica. O valor estimado para estas medidas é superior ao acréscimo orçamentado, pelo que existem indícios de suborçamentação. O exercício de estimação da execução em 2019 que integra a POE reviu em alta a dotação inicialmente orçamentada, reconhecendo suborçamentação no planeamento desse ano", refere a o relatório da unidade técnica de apoio ao parlamento.

A proposta de OE2020, que prevê o primeiro excedente da democracia (0,2% do Produto Interno Bruto), foi entregue pelo Governo na Assembleia da República em 16 de dezembro.