Um pouco por todo o mundo, o discurso populista tomou de assalto o debate público, alimentando o surgimento de movimentos e líderes políticos que já conquistaram o poder em vários países. Está, por isso, nomeada para “Palavra do Ano”.
O que é o populismo?
Diz o dicionário que “populismo”, na política, é a doutrina ou regime, geralmente de carácter paternalista, assente na ideia de que a liderança deve ser exercida em estreita ligação com o povo. Pode ser ainda uma prática que procura ganhar vantagens como apelo a reivindicações ou preconceitos amplamente disseminados entre a população, geralmente fazendo a distinção entre dois grupos antagónicos: um, virtuoso e maioritário – o povo – que exalta e diz defender; outro, minoritário e apontado como fonte dos problemas gerais, que pretende combater.
O "novo fantasma” da Europa
É assim que Manuel Alegre descreve aquela que parece ser uma tendência crescente na Europa. Os partidos populistas têm visto o número de votos triplicar nas últimas duas décadas, diz o jornal britânico The Guardian. Portugal parece estar, para já, imune.
Desde 1998, sobretudo à direita, os partidos políticos têm obtido o triplo dos votos, o suficiente para colocarem os seus líderes em cargos governamentais em 11 países.
Com eleições europeias a decorrerem a pouco mais de cinco meses, em maio de 2019, a questão tem levantado preocupações. Os especialistas preveem a grande probabilidade da eleição de mais elementos de partidos populistas de extrema-direita na câmara de 751 representantes europeus.
Para o Presidente da República, é preciso evitar que o debate seja marcado por radicalismo e xenofobia.
Já o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, disse acreditar que as próximas eleições europeias representarão "uma derrota do populismo", apesar de achar preocupante que a extrema-direita "possa estar a crescer" na Europa. Aflição partilhada também por Mário Centeno.
O Presidente dos afetos
"Estar próximo das pessoas é fundamental, não é uma questão de moda ou de estilo". Quem o diz é o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, acusado por várias vezes, em particular nas redes sociais, de ser um líder populista.
Selfies, abraços e beijinhos são atividades (quase) sempre obrigatórias por onde quer que Marcelo passe. Foi, por isso, apelidado de “Presidente dos afetos”.
Apesar da sua proximidade com a população, é o próprio a alertar para os perigos deste fenómeno em crescimento.
Rui Rio, um líder populista?
Desde que subiu à liderança do Partido Social Democrata, Rui Rio tem sido alvo de inúmeras críticas internas, que intensificaram depois do seu discurso, em setembro, que marcou o regresso à atividade partidária depois das férias.
Acusado de estar “além do próprio partido”, de ter uma “estratégia de populismo” e de “praticar um culto de personalidade de quem quer enlamear tudo à sua volta para que possa sobressair”. Estas são algumas das argumentações dos críticos internos à liderança de Rui Rio.
Populismo no futebol
No início do ano, o antigo presidente do Sporting José Roquette acusou Bruno de Carvalho de populismo e comparou-o a Donald Trump. Em entrevista à Radio Renascença e jornal Público, Roquette disse que “os líderes do populismo convivem muito mal com a crítica".
Na sequência do ataque à Academia de Alcochete do Sporting, que levaria eventualmente Bruno de Carvalho a ser suspenso e julgado, o PCP lamentou a violência e ligou o episódio a fenómenos como o populismo.
"Condenando as manifestações de violência que se têm registado no campo desportivo, o PCP sublinha que os acontecimentos recentes em torno do futebol, com as dinâmicas específicas que os envolvem, não são separáveis de expressões antidemocráticas como a conflitualidade gratuita, o populismo ou o incentivo ao ódio, mais amplamente disseminadas na sociedade".
Pode votar aqui na “Palavra do Ano”, uma iniciativa da Porto Editora, até dia 31 de dezembro. Em 2017, venceu “incêndios”.