Em "Songwriter", o documentário que lançou no ano passado, Ed Sheeran afirma, a certa altura, ter a certeza que "Divide" era o melhor disco da sua carreira. De facto, nunca o cantor e compositor britânico tinha conquistado tantos recordes: logo na semana de lançamento foi número um no Reino Unido; pouco tempo depois, tinha nove canções no top 10.
A apresentação mundial deste álbum rendeu três anos de uma digressão intensa e bem sucedida. Por isso, Sheeran acabou de anunciar uma pausa na carreira. Não se sabe por quanto tempo e não é a primeira vez que o faz. Numa mensagem publicada na conta de Instagram diz que vai "viajar, escrever e ler". (Devemos lembrar que "Divide" surgiu a seguir a uma fase destas.)
1+1 no Estádio da Luz
2019 foi, finalmente, o ano em que a agenda de concertos do britânico voltou a coincidir com Portugal. E a prova de que a ansiedade do público era muita foi o resultado: era para ser uma data no Estádio da Luz, mas passou a duas completamente esgotadas. O que se traduziu em 120 mil pessoas a assistirem ao “one-man show” em que Sheeran se tornou. E a certa altura, lança o britânico:
“Há dez anos, eu tocava em pequenos pubs e discotecas pela Inglaterra fora, e ninguém se importava; há dez anos, compus uma canção, interpretei-a, como disse, em pequenos pubs e discotecas, e ninguém se importava. Agora, toco essa canção em todos os concertos desde então… e, felizmente, vocês importam-se.”
A reflexão antecipou o tema “The A Team” e foi inevitável não pensar que, precisamente há pouco mais de 10 anos, o músico era tão tímido que chegava a gaguejar. E agora, domina plateias, sozinho em palco, apenas acompanhado por uma loop station onde grava, ao vivo, alguns dos acordes que precisa para pôr em prática as canções. A Lisboa trouxe a maturidade musical naquele que foi, seguramente, um dos concertos do ano (e que pode ser relembrado na reportagem que fizemos e que deixamos aqui em baixo).
Digressão mais rentável de sempre. Artista da década
Pensar numa figura da área da Cultura do ano que agora termina e não incluir Ed Sheeran no lote é passar ao lado de um dos maiores nomes da música da atualidade. Um artista que, vamos ser sinceros, até nem cumpre os requisitos das “receitas fáceis e prováveis” que todos conhecemos. A arma que utiliza é a de não se mostrar tanto aos holofotes, mas a de aprimorar o talento que tem enquanto compositor e autor das próprias letras.
Mas voltemos ao reconhecimento que aqui fica escrito e que é alicerçado em dois importantes títulos que este ano lhe foram atribuídos. Primeiro, é Ed Sheeran quem lidera, agora, a lista das digressões mais rentáveis de sempre. As datas de apresentação de “Divide” de 2019, que só passou por arenas e estádios, somadas às dos outros dois anos da tour, renderam tanto em receitas de bilheteira que o "posto" ocupado pelos U2 é agora seu. Ao todo, em 258 espetáculos (a digressão arrancou em 2017) arrecadou quase 700 milhões de euros. E mesmo antes de fecharmos 2019, tornou-se no "artista da década do Reino Unido". Quem o elegeu foi a Official Charts Company (uma espécie de Billboard britânica). E, segundo noticia “O Globo”, aos 28 anos, o britânico foi o “recordista de álbuns e singles números um nos últimos 10 anos, com um total de 12”.
Esperamos que Ed Sheeran aproveite o tempo de pausa da melhor forma e que regresse com mais criatividade e maturidade. Pois deverá ser mais difícil a reinvenção do que surgir como novidade. Mas será este o desafio de um artista que não tinha pinta disso, mas que agora ganhou por mérito a curiosidade em vê-lo continuar.