Acha que não resolve nada. Ela sabe porquê. Passou por isso em pequena. As crianças crescem e é preciso estar sempre a substituir a prótese e uma biónica é muito cara. Mais vale aprender a viver assim e esperar até serem adultos e os adultos que se deixem de fazer "aquelas caras" que não se aguenta! "Sou capaz de fazer tudo e só tenho uma mão!"
Quando a ouvi ao telefone, ainda mais convencida fiquei. Aquele testemunho era mesmo importante. Ela não quer cá a piedadezinha e não quer falar na televisão. Mas falou. Depois de pôr bem os pontos nos "is" e de ter a certeza que não queríamos fazer sensacionalismo à conta dela.
A reportagem da Catarina Marques e do Jorge Pelicano passou no Jornal da Noite de 6 de Novembro de 2011 e a Cláudia Cintra falou na televisão.
Aquele testemunho na primeira pessoa, que teve várias próteses "que mais pareciam oferecidas pelo capitão Gancho", diz ela ainda hoje; aquele testemunho na primeira pessoa, que faz tudo e mais alguma coisa sem a mão direita, aquele testemunho era mesmo importante.
A Cláudia e eu, volta não volta, trocamos e-mails, mensagens, encontramo-nos, não importa sequer que seja muito menos vezes do que ambas desejaríamos.
A miúda, na altura com 29 anos, deu luta, muita, até aceitar a reportagem da SIC, mas agora autorizou-me a publicar este texto sem um piscar de olhos.
O lado da Cláudia pós reportagem
Fui abordada na rua por pais com filhos que nasceram como eu, a agradecer o meu testemunho porque ficaram mais tranquilos ao ver que eu fazia tudo e que os seus filhos também iriam fazer. Que quando me viram na peça, chamaram logo os filhos para virem ver "alguém como eles" a fazer as coisas, para que eles próprios vissem que seriam capazes de tudo também.
Uma mãe contactou a SIC a pedir o meu contacto, que eu aceitei, porque a filha de 6 anos depois de me ver a apertar os sapatos, quis muito conhecer-me para que a ensinasse e que eu passei a ser uma referência positiva em casa, nas situações do quotidiano menos agradáveis que surgem como um íman quando se tem uma deficiência.
Fiquei muito feliz por sentir que a minha história deu esperança a todos aqueles que ainda estavam a dar os primeiros passos a lidar com as reacções exteriores que uma deficiência acarreta.