Sismo no Japão

Japão faz um minuto de silêncio pelas quase 30 mil vítimas da tragédia de há um mês

Um minuto de silêncio foi hoje observado na região do nordeste do Japão, a mais devastada pelo sismo, seguido de tsunami, registado a 11 de Março às 14h46 locais (5h46 em Lisboa), há precisamente um mês. Um despacho da AFP refere que a catástrofe, a pior registada no país desde a II Grande Guerra, causou mais de 27 mil mortos e desaparecidos, de acordo com um balanço ainda provisório da polícia japonesa.

À hora exata a que se registou o sismo de magnitude 9 na escala de Richter, ouviram-se as sirenes e a população fez um minuto de silêncio em memória das vítimas.



O sismo trouxe muita solidariedade e é o começo de um novo país, disse à agência Lusa o padre Jaime Coelho, residente no país há 51 anos.



"O ambiente é de tristeza, mas também de muito boa vontade e colaboração das outras províncias" em relação às do nordeste que foram as mais afetadas pelo sismo e tsunami, disse o padre português.



Jaime Coelho considera que o sismo mais forte que sentiu nos 51 anos em que reside naquele país asiático "trouxe muita solidariedade, muita generosidade, foi uma grande desgraça para o Japão e também o começo de um novo Japão".



Quando chegou ao país para "espalhar a mensagem de Jesus", este padre português diz que o que o mais o surpreendeu foi a capacidade de os japoneses "respeitarem o outro e saberem lutar quando há dificuldades".



"Em organização, o Japão é o número um no mundo",
sublinhou ao lembrar que os japoneses "estão habituados" aos tremores de terra e "não reagem com aquele terror do estrangeiro".



Mas para o sacerdote, autor de um dicionário japonês-português e que está a preparar um outro de português-japonês , "o grande mal do Japão é não se fazer cristão, porque é um povo que sorri muito, mas é também um povo triste".



"Eles dizem que têm inveja da alegria dos filipinos",
disse Jaime Coelho ao justificar esta situação pelo facto de os japoneses "não acreditarem em Deus".



"Eles têm muitos problemas em se relacionarem uns com os outros, não se consideram irmãos e irmãs ou filhos do mesmo Deus",
explicou.



O padre exemplificou esta situação com o facto de muitos dos refugiados que dormem em abrigos nas zonas devastadas pelo tsunami se terem "lembrado de fazerem divisões com plásticos para que não se vissem uns aos outros": "Acho que em Portugal reagiriam de outra maneira, porque somos todos irmãos e irmãos", observou.



O budismo é a principal religião do Japão, seguindo-se o xintoísmo, existindo apenas cerca de 500 mil japoneses católicos entre uma população de 127 milhões de pessoas.



Mas para Jaime Coelho o facto de os japoneses não acreditarem em Deus "pode também ser uma força, porque às vezes reza-se e não se faz mais nada e os japoneses realmente fazem tudo para resolverem os seus problemas", salientou.



O padre defende que, "se não se tivesse erradicado quase completamente a religião cristã" no século XVI, o Japão "seria hoje um país mais feliz e mais alegre e talvez um país mais cristão ou tão cristão como as Filipinas" e, por isso, diz que pretende continuar a dedicar o resto da sua vida à missão de evangelizar aquele país.



"Ando a colar um cartaz nas estações de comboio a pedir a conversão do imperador e da família imperial, o que está a causar alguma celeuma, porque para os japoneses o imperador não precisa de salvação, ele é o Deus", disse à Lusa o sacerdote ao salientar que a "tradição do Japão ainda tem muita influência sobre os japoneses".



Lusa