Ciência

De Nashville a Nova Iorque: como Taylor Swift mudou o dialeto ao longo da carreira

Investigadores da Universidade de Minnesota analisaram anos de entrevistas de Taylor Swift para perceber como o dialeto da cantora mudou em diferentes "eras" da sua carreira.

De Nashville a Nova Iorque: como Taylor Swift mudou o dialeto ao longo da carreira
Lindsey Wasson/AP Photo

Os cientistas confirmaram o que os fãs de Taylor Swift suspeitavam há muito tempo: o dialeto e o tom da estrela da pop mudaram ao longo da sua carreira.

Taylor Swift é uma das maiores cantoras da história da pop, influenciando milhões de fãs com a sua música. Graças a anos de entrevistas gravadas, está também a influenciar a forma como os cientistas estudam e compreendem como as pessoas adotam os sotaques e os dialetos regionais.

Dois investigadores da Universidade de Minnesota analisaram anos de entrevistas gravadas de Taylor Swift para perceber como o dialeto da cantora mudou em diferentes fases da sua vida e carreira.

O sotaque sulista de Nashville, a entoação mais clara da Pensilvânia e de Nova Iorque e até o tom mais grave adotado numa fase de maior ativismo social: tudo isto faz parte da evolução linguística de Taylor Swift. 

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O estudo de Miski Mohamed e Matthew Winnpublicado no Journal of the Acoustical Society of Americamostra como as escolhas da artista na forma de falar refletem também as comunidades a que quis pertencer.

De Fearless a Lover 

Nas fases iniciais da sua carreira musical, enquanto vivia perto de Nashville, no Tennessee, Taylor Swift tinha um sotaque tipicamente sulista dos EUA. Quando lançou o seu álbum pop Red, em 2012, o sotaque sulista tinha desaparecido e alterou-se novamente quando a artista se mudou para Nova Iorque, dizem os investigadores.

O dialeto de uma pessoa está tipicamente associado à região de origem, embora possa mudar ao longo da vida. Mas ser capaz de estudar como eles mudam é raro, diz Matthew Winn, terapeuta da fala na Universidade de Minnesota Twin Cities, em Minneapolis.

"Normalmente não conseguimos seguir alguém com um microfone. Taylor Swift foi essencialmente seguida com o microfone durante a maior parte da sua vida adulta", diz Winn, salientando que Swift é um caso único para análise porque foi gravada inúmeras vezes e em diferentes momentos da carreira.

Como se estuda um sotaque ou dialeto

No estudo, Miski Mohamed e Matthew Winn analisaram mais de 100 minutos de entrevistas de Swift em três períodos distintos da sua carreira. Em 2008, Swift lançou Fearless enquanto vivia perto de Nashville; em 2012, lançou Red; e em 2019, Lover foi lançado enquanto vivia em Nova Iorque.

Taylor Swift a atuar durante a digressão Eras com análise de frequência vocal sobreposta.
Maura Shapiro / Miski Mohamed e Matthew Winn

A partir destas entrevistas, a equipa selecionou mais de 1.400 sons vocálicos e analisou-os através de um software para medir as ressonâncias vocais - como a pronúncia das vogais de Swift mudava.

"À medida que uma pessoa muda de dialeto - pelo menos no inglês - estas mudanças refletem-se geralmente nas vogais", explica Winn.
"O ponto-chave na análise dos dialectos é medir o movimento da vogal dentro boca, do início ao fim - é isso que faz a diferença entre os dialectos. Fizemos dez medições por vogal para mostrar este movimento, o que foi fundamental para mostrar como a sua articulação mudou nas diferentes cidades" em que viveu.

O sotaque sulista em Red

Com esta análise, os investigadores puderam mostrar como Swift adotou características do sotaque sulista quando viveu em Nashville: a pronúncia do "i" em palavras como "ride" tornou-se mais curta, pronunciando a palavra mais como "rod", o que, segundo os investigadores, é uma característica clássica do sul dos EUA. O som "oo" em palavras como "two" também mudou para soar como "tee-you", outra assinatura sulista.

Mais tarde, as vogais de Swift alongaram-se na altura em que começou a cantar mais música pop, com uma distinção mais clara entre palavras como "cot" e "caught", o que, segundo os autores, é uma característica dos dialectos da Pensilvânia, onde Swift cresceu, e de Nova Iorque.

Os investigadores sugerem que estas mudanças refletem o desejo de Swift de fazer parte destas comunidades. 

"Eu era uma daquelas pessoas que pensava nos dialetos principalmente como um reflexo de onde se vem, mas obviamente também refletem o tipo de comunidade da qual se quer fazer parte", diz Winn.

Voz mais grave na fase de ativismo

O estudo detetou ainda uma alteração no tom da voz. “A segunda grande mudança que observámos foi que Taylor baixou o tom da voz quando se mudou para Nova Iorque”, afirma Winn.

Foi nessa altura que Swift começou a manifestar-se publicamente sobre feminismo, direitos dos músicos e causas sociais e políticas

"Por vezes, as pessoas com um tom mais grave são percebidas como uma voz de autoridade, e é possível que ela estivesse a usar esta tendência para garantir que a sua mensagem era recebida", conclui o investigador.
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