Coronavírus

Alívio de restrições: “Felizmente não se falou no fim da pandemia”

Tiago Correia, especialista em saúde pública, analisa as novas medidas anunciadas pelo Governo.

Alívio de restrições: “Felizmente não se falou no fim da pandemia”

O Governo anunciou esta quinta-feira medidas de alívio das restrições associadas à pandemia de covid-19. Para Tiago Correia, especialista em Saúde Pública e professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), considera que estas decisões são de “gestão política”

“Eu fui dizendo nos últimos dias que estávamos num momento verdadeiramente de gestão política, que dependia de até onde é que o Governo queria gerir o risco. Isto é uma decisão política que compete aos decisores”, disse em análise na Edição da Noite da SIC Notícias.

Apesar disso, Tiago Correia congratula a forma como a comunicação foi feita por parte do Executivo, que optou por não incluir referências ao final da pandemia de covid-19.

Não se falou em virar de página, no fim da pandemia, no dia da libertação“, afirma o comentador da SIC, sublinhando que este será tratar-se de mais um “momento novo”. “Felizmente o Governo não entrou nesse tipo de argumentação. As medidas são aliviadas porque objetivamente a situação epidemiológica atual e o que as perspetivas nas próximas semanas permitem-nos fazer esse alívio.”

O professor do IHMT acrescenta que a fase endémica – onde o vírus circula de forma livre entre a população – ainda suscita várias questões do ponto de vista científico e que “só o tempo e a experiência de outros países nos permitirá avaliar essas circunstâncias“.

O caminho é perceber como vamos conviver com o vírus, tentando minimizar ao máximo os impactos que causa ou irá causar – e para isso muito contribui o processo de vacinação – e, depois, retomar uma normalidade que toda a gente precisa de retomar.”

Máscaras, isolamentos e quarentenas

Quanto às medidas apresentadas esta quinta-feira pelo Governo, Tiago Correia afirma que “é impossível alguém concordar ou discordar com tudo“. O especialista analisou as alterações nas normas sobre o uso de máscaras, o isolamento de assintomáticos e o fim das “quarentenas” de contactos de alto risco.

“Em relação às máscara, parece-me relativamente consensual, do ponto de vista cientifico, que havia riscos que ainda não precisamos de correr se retirássemos as máscaras de todos os espaços fechados“, afirma o especialista em saúde pública.

No entanto, no caso das salas de aulas, o uso de máscara continua a ser obrigatório. Tiago Correia defende que “o Governo podia ter ido um pouco mais longe“. E explica: “Devia ter sido retirado por um motivo fundamental: são grupos populacionais que não são de risco para a covid-19, que estão amplamente vacinados e em que o vírus teve uma grande incidência. É um grupo que está protegido em relação ao vírus e que a manutenção da máscara acaba por ser um bocadinho excessiva.”

Sobre o isolamento de pessoas assintomáticas, o professor do IHMT lembra que, mesmo sem sintomas, uma pessoa infetada também podem transmitir a doença. Considera, por isso, que “foi criado um ruído na sociedade injustificado, do ponto de vista científicos, de que as pessoas assintomáticas não deviam fazer isolamento”.

Por outro lado, Tiago Correia congratula o fim das “quarentenas” – ou seja, quando o coabitante de uma pessoa infetada é obrigada a ficar em isolamento, mesmo não tendo testado positivo.

“Pessoas que tinham o vírus estavam em casa sete dias. Pessoas saudáveis, que não sabiam se tinham o vírus, podiam estar em casa sete dias, 14 dias, 21 dias, por aí fora“, sublinha Tiago Correia.

O especialista destaca ainda que Portugal deixou de estar em situação de calamidade para passar a situação de alerta, o que significa que “deixamos de estar perante um perigo e estamos perante a eminência de um perigo, que precisa de ser monitorizado e vigiado”.

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