Coronavírus

Pico atingido, possível nova vaga e alívio de restrições: a reunião do Infarmed

O especialistas consideram que este é o “momento ideal” para aliviar as medidas, numa altura em que Portugal entrou numa fase com “tendência decrescente”.

Pico atingido, possível nova vaga e alívio de restrições: a reunião do Infarmed

Peritos e responsáveis políticos voltaram esta quarta-feira a reunir-se no Infarmed, em Lisboa, para avaliar a situação epidemiológica da covid-19 em Portugal.

Numa altura em que o pico da quinta vaga da pandemia já foi atingido, e Portugal está numa fase com “tendência decrescente”, os especialistas consideram que este é o “momento ideal” para aliviar as restrições.

Apontam que poderá haver um nova vaga no próximo inverno, no entanto “as pandemias não duram eternamente” e esta é uma boa oportunidade para dar um “novo olhar” a esta fase.

Acreditam que à medida que as restrições vão sendo levantadas, “não vai ser necessário identificar todos os casos de infeção”, o que vai trazer mudanças das estratégias de testagem. E apesar da covid-19 se poder tornar sazonal, não descartam a hipótese de novas variantes.

Pico da 5ª vaga já foi atingido e Portugal está em fase com “tendência decrescente”

Portugal, desde o início da pandemia, já passou por cinco vagas epidémicas, encontrando-se agora na de maior dimensão. O pico já foi atingido, terá ocorrido a 28 de janeiro, e o país entrou agora numa fase com “tendência decrescente”.

Esta informação foi divulgada por Pedro Pinto Leite, da Direção-Geral da Saúde, que fez a apresentação da “caracterização da situação epidemiológica” em Portugal até dia 13 de fevereiro na reunião do Infarmed.

Pedro Pinto Leite refere que existem vários pontos positivos a destacar nos diferentes indicadores analisados, nomeadamente a “diminuição da incidência e positividade”, o risco de “internamento ser 2 a 7 vezes inferior com vacinação” e, apesar de a mortalidade estar elevada, já estabilizou, sendo que o “risco de morte é seis vezes inferior com a vacinação”. Neste momento, Portugal está “muito longe do inverno passado”, acrescenta também o perito da DGS.

O “momento ideal” para aliviar as restrições

Portugal, no contexto europeu, é um dos países com menos medidas restritivas e Raquel Duarte, da ARS Norte, Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, considera que este é “o momento ideal” para passar às chamadas medidas de nível 1 – com avaliação quinzenal.

Os peritos propõem:

  • O fim da limitação de acesso a lojas, bares e discotecas;
  • A manutenção do uso obrigatório da máscara apenas em locais interiores públicos, serviços de saúde, transportes e áreas exteriores com grande densidade populacional;
  • A utilização do certificado unicamente em contexto de saúde ocupacional;
  • Fim da recomendação de teletrabalho, passando o trabalho presencial a fazer-se sem limitações;
  • Testagem recomendada em populações de maior vulnerabilidade (admissão nos lares e antes de internamento hospitalar), funcionários do pré-escolar, em locais de maior risco de transmissão e quando existem sintomas, em contexto de diagnóstico.

No entanto, alerta que “é preciso manter a vigilância” e que “há ameaças que não devem ser esquecidas”, como a iniquidade de acesso às vacinas a nível mundial, que pode potenciar o aparecimento de novas variantes.

A especialista lembrou ainda que os próximos passos exigem um foco na monitorização, vacinação, ventilação e uso da máscara em ambientes de risco (lares e unidades de saúde).

 “É preciso ritualizar comportamentos, não é aceitável descuidar a higienização das mãos, ou que não se mantenha distância ou não se use máscara se tivermos sintomas”, afirmou.

Peritos propõem sistema integrado de vigilância de infeções respiratórias

Nesta reunião do Infarmed, os peritos propuseram ainda um sistema de vigilância de infeções respiratórias que integre o vírus SARS-Cov-2, o da gripe e o vírus sincicial respiratório.

“Vamos necessitar de manter a vigilância (…) e conseguir identificar tendências de evolução”, afirmou Ana Paula Rodrigues, especialista do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, sublinhando que o que se propõe é “olhar com maior detalhe para as infeções respiratórias, para conseguir uniformizar o que se vai observando”.

A especialista diz que com o alívio das medidas “não vai ser necessário identificar todos os casos de infeção, como fazemos”, o que vai trazer mudanças das estratégias de testagem “e, gradualmente, o foco de interesse vai mudar para os casos de doença com impacto na morbilidade, na mortalidade e na resposta dos serviços saúde”, afirmou.

Ana Paula Rodrigues não descartou a hipótese de novas variantes e explica que “é possível uma sazonalidade da covid-19”.

“As pandemias não duram eternamente”

Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, diz que esta é uma oportunidade para dar um novo olhar a uma parte da história que se está a viver.

“As pandemias não duram eternamente, elas mudam”, porque o agente pode desaparecer ou porque passa a ficar nas populações em intensidades variadas e reiniciar um novo ciclo da doença, explica.

 O especialista acredita que tem de ser traçado um novo caminho de saída, tendo em conta a mudança na relação entre o número de casos e o impacto da infeção, numa altura em que o vírus “está endémico”.

“Potencialmente poderá ocorrer uma nova onda epidémica” no próximo outono/inverno

Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, fez uma perspetiva para os próximos 12 meses, projetando os cenários de evolução epidemiológica até março de 2023.

Com base nas análises, à medida que a população vai perdendo a proteção vacinal, “potencialmente poderá ocorrer uma nova onda epidémica” no próximo outono/inverno. No entanto, Baltazar Nunes ressalva que este cenário não tem nenhum tipo de medida de mitigação para o evitar.

O especialista indica ainda que existem fatores que podem condicionar a evolução da pandemia: o aparecimento de uma nova variante de preocupação e a duração da proteção conferida pela vacinação ou infeção.

Portugal pode avançar para o levantamento de um conjunto de restrições

O primeiro-ministro já admitiu que Portugal possa avançar para o levantamento de um conjunto de restrições, tal como já acontece em vários países da União Europeia.

O secretário de Estado Adjunto e da Saúde disse na terça-feira que é de esperar “alívio nas restrições” impostas pela pandemia de covid-19, mas que esse alívio será “progressivo, gradual e cauteloso”.

Já a ministra da Saúde, Marta Temido, no final da reunião do Infarmed, sublinhou que apesar das boas perspetivas, esta fase da pandemia é ainda de grande incerteza. Ainda assim, abriu a porta à revisão das medidas atualmente em vigor, tais como nova política de testagem, da exigência dos certificados covid-19 e do uso obrigatório ou não de máscara em espaços ao ar livre.