Coronavírus

Covid-19: “Próximos outonos e invernos” podem implicar passos atrás

“Não há como sair disto até percebermos as características do vírus, e ele é um vírus muito jovem”, explica Graça Freitas.

Covid-19: “Próximos outonos e invernos” podem implicar passos atrás

Com a primavera à porta e um previsível abrandamento das medidas à vista, a diretora-geral da Saúde admite, porém, que os próximos invernos possam obrigar a retrocessos. Uma coisa é certa: a vacinação contra a covid-19 será seletiva e sazonal, mas a estratégia dependerá das novas vacinas ainda em investigação.

Em entrevista à agência Lusa, no dia em que se assinalam dois anos desde que foi reportado o primeiro caso de covid-19 em Portugal, Graça Freitas admite que nos próximos invernos seja necessário ir dando passos atrás nas medidas de proteção, fazendo regressar algumas, e que em muitos casos nem vai ser preciso recomendações oficiais para isso acontecer.

“Sim, pode acontecer que nos próximos outonos e invernos seja necessário adaptar medidas. Uns anos serão mais restritivas, noutros menos”, admitiu, mostrando-se confiante de que esses comportamentos não vão ser difíceis de adotar porque “o ser humano tem uma grande capacidade de adaptação”.

Vamos chegar a uma altura em que quase não vão ser precisas recomendações e é isso que se espera, que a população, os serviços, a sociedade se adaptem, flexibilizando medidas, mas de forma que essas medidas impactem o mínimo possível na nossa vida social e económica”, afirmou, sublinhando: “Não há como sair disto até percebermos as características do vírus, e ele é um vírus muito jovem”.

“Não temos previsão de como vai ser o comportamento do vírus SARS-CoV-2 e nada garante que as novas variantes venham a ser mais benignas do que as anteriores… podem ser mais complexas”, afirmou.

“Foram dois anos longos e difíceis”: o balanço da pandemia

Agora vive-se um período de recuperação entre ondas da pandemia mas chegará uma nova, “só não se sabe quando”. Graça Freitas chamou a atenção para o facto de haver variantes de preocupação, dando como exemplo o “novo braço da variante Ómicron, que é bem diferente da primeira”.

Sobre o fim do uso das máscaras nos espaços interiores, defendeu que qualquer decisão só será tomada após análise dos especialistas, pois terá de ser sempre avaliada “a curva epidémica”.

“Há de chegar um momento em que se vai considerar tirar as máscaras nos espaços interiores, quando não tiver impacto na subida da onda, significativo, pelo menos”, disse, sublinhando porém que “serão os especialistas a dizer-nos qual será esse momento (…), quando não impactar negativamente nem na incidência, nem nos internamentos nem nas mortes”.

Sobre o uso de máscaras pelas crianças destacou “têm uma grande capacidade de recuperação e uma longa esperança de vida para que todos estes processos sejam incorporados”. Neste sentido, acrescentou, “tenho uma enorme compreensão pelas crianças (…), mas todos gostaríamos de voltar a ver a cara das pessoas como ela é, e não como tem estado no últimos dois anos”.

Vacinação? Tendência será seletiva e sazonal

“Se tudo se mantiver como agora e, pelo menos, nos próximos anos, a tendência será para uma vacinação seletiva e sazonal”, afirmou Graça Freitas, lembrando que a indústria farmacêutica e a investigação científica estão “a trabalhar para novas vacinas com outras características e, sobretudo, que tenham um espetro de ação mais amplo, que não sejam só dirigidas por uma variante e que tenham uma duração maior da imunidade”.

Por este motivo, a estratégia de vacinação pode ter de ser revista. “O que (…) quero dizer com isto de [vacinação] seletiva é porque escolhemos grupos de risco, ou seja, as pessoas que mais beneficiam com a vacinação. E sazonal porque a expectativa que nós temos é que com este vírus (…), será uma vacinação que se fará no outono para os grupos de risco chegarem à estação mais agressiva, que é o inverno, já com proteção adicional”, explicou.

Sobre a vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos, disse que “atendendo às características da doença nas crianças e à perceção do risco, a adesão (…) foi bastante boa” e lembrou que os serviços continuam abertos para vacinar qualquer criança que não tenha aparecido.

Graça Freitas recordou que as crianças tem recomendação apenas para duas doses da vacina [sem reforço] e sublinha que “a segunda dose ainda está a dar bastante proteção a estas crianças”.

“É preciso também não esquecer que uma grande percentagem das crianças [nesta faixa etária] esteve doente com a variante Ómicrom, o que dá uma imunidade natural já com esta nova variante”, sublinhou.

COM LUSA

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