Coronavírus

“Foram dois anos longos e difíceis”: o balanço da pandemia em Portugal

No dia em que se assinalam dois anos de pandemia em Portugal, Graça Freitas recorda o trajeto de resiliência e luta dos serviços e da população a uma doença desconhecida.

“Foram dois anos longos e difíceis”: o balanço da pandemia em Portugal

No dia em que se assinalam dois anos depois do início da pandemia no país, a diretora-geral da Saúde admite que o trajeto foi “longo e difícil”, mas destaca os primeiros meses como a “pior fase”. A “resiliência” e resposta dos serviços de saúde foram fatores chave, e entre as lições a retirar da pandemia, Graça Freitas refere a necessidade de reforçar a Saúde Pública.

“Foram dois anos longos e difíceis” vividos como muita intensidade por profissionais e pela população, disse Graças Freitas, um dos rostos do combate à pandemia em Portugal, considerando que a palavra “diferença” é a que caracteriza este período, marcado por “alguma ansiedade e algum medo”.

“Houve de facto uma mudança total nas nossas vidas que não começou no dia 2 de março [de 2020]. Essa mudança começou, sem nós sabermos, no dia 31 de dezembro de 2019 quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a China descobriram que havia um novo vírus com potencial de se tornar pandémico”, recordou.

Foi nessa altura que começou “toda a nossa saga”, comentou Graça Freitas, considerando que a “pior fase” da pandemia foram os primeiros meses, em que havia ignorância em relação ao vírus e incerteza, mas considerou que se deve ter orgulho do que foi feito.

Nessa altura, havia dois ou três hospitais dedicados à covid-19, uma linha de apoio a médicos, o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) que fazia as análises e o INEM que transportava os doentes.

“Essa foi a primeira fase em que tentámos conter ao máximo a doença e ao mesmo tempo (…) foi-se preparando a resposta para as outras fases”, salientou.

Para Graça Freitas, isto foi “muito importante” porque em simultâneo davam resposta aos doentes e às ameaças e programavam o futuro, com a aquisição de mais equipamentos, reforço das camas de intensivos e a preparação de medidas, o que, disse, “correu bastante bem essa fase inicial”.

Para as pessoas que às vezes dizem que esta doença não foi mais do que uma gripe, eu recordo as 21.086 pessoas que morreram [em Portugal] por covid – não morreram com covid – e os mais de três milhões que adoeceram”, vincou, rematando que foi “um período doloroso”.

Depois aconteceu “uma coisa muito importante”, o dever do recolher obrigatório. Houve uma resposta extraordinária a dois níveis: das pessoas que confinaram ordeiramente e das pessoas que não tendo confinado garantiram o confinamento dos outros”, salientou, destacando que “os milhares” de trabalhadores da saúde, do setor da distribuição, dos trabalhadores das autarquias mantiveram o país a funcionar para que os restantes pudessem cumprir o seu confinamento.

A diretora-geral da Saúde destacou também a importância de se criar “uma grande infraestrutura de atendimento ao domicílio” no dia 4 de abril de 2020 e que deu início a uma nova fase. Com esta plataforma, “milhares e milhares de portugueses” ficaram em casa com o apoio médico à distância.

“Foi um movimento muito importante porque senão teríamos tido uma avalanche de procura de cuidados de saúde”, salientou a especialista em saúde pública.

Uma das lições da pandemia

“Fica uma lição: de facto, a infraestrutura de Saúde Pública tem de ser reforçada, as equipas têm de ser reforçadas, não só em número, como do ponto de vista tecnológico”, afirmou Graça Freitas. A pandemia “serviu de catalisador (…) para um grande desenvolvimento tecnológico” que não se pode perder, “tanto esta nova organização das equipas, como o treino para uma outra epidemia”.

“Temos de pensar na organização da Saúde Pública para dar mais respostas e melhores respostas ainda do que as que foram dadas. A saúde publica superou-se completamente”, sublinhou.

Mas foi também obrigada a reinventar-se: “A Saúde Pública teve de se reinventar e fê-lo à custa de profissionais que acabaram por ser cooptados para a causa. (…) Muitos não pararam, não tiveram férias, trabalharam ininterruptamente (…) e vigiaram de longe mais de 30 milhões de pessoas”.

“Passaram do modelo clássico de investigação epidemiológica, que é um modelo muito cuidadoso, de trabalho de detetive, muito feito por médicos com formação para isso, para perceber que tinham de criar equipas que integraram outros profissionais de saúde e tinham como missão apanhar o maior número possível de pessoas, isolar e quebrar cadeias de contacto”.

Este “foi um enorme desafio” e acrescentou: “Não se consegue imaginar o trabalho que as equipas de Saúde Pública tiveram… para cada caso positivo houve 4, 5, 7 ou 10 contactos, conforme as ondas. Com 3 milhões de positivos, se cada caso positivo originou em média 10 contactos, isto dá 30 milhões de pessoas em vigilância. Todos estivemos sob vigilância em alguma altura desta pandemia”.

COM LUSA

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