A variante Ómicron, que é de rápida disseminação mas causa a doença mais leve em comparação com as variantes anteriores do novo coronavírus, tem alimentado a ideia de que a covid-19 representa agora um risco menor e que nem é preciso fazer esforço para evitar a infeção já que, mais cedo ou mais tarde, todos seremos expostos ao vírus. Mas os especialistas alertam que ainda não é altura para se ser complacente com o SARS-CoV-2 ou com qualquer uma das suas variantes conhecidas.
Ainda podemos ficar gravemente doentes
As investigações indicam que a Ómicron tem maior probabilidade de levar a um caso assintomático de covid-19 do que as variantes anteriores. E para aqueles que têm sintomas, a grande maioria tem uma doença muito leve, com dor de garganta ou corrimento nasanal, mas sem as dificuldades respiratórias típicas da infeções anteriores.
Mas a extraordinária disseminação do Ómicron em muitos países significa que, em números absolutos, mais pessoas vão sofrer da forma grave da doença. Dados recentes de Itália e da Alemanha mostram que as pessoas que não estão vacinadas têm muito maior probabilidade de hospitalização, cuidados intensivos e morte.
Podemos infetar os outros
A doença pode ser ligeira em algumas pessoas, mas mantém-se o risco de contágio para outras pessoas que podem desenvolver a forma mais grave da covid-19.
E o contágio é possível “mesmo se tiver anticorpos de uma infeção anterior ou de vacinação”, segundo Akiko Iwasaki, que estuda imunologia viral na Universidade de Yale, em declarações à agência Reuters.
- Vacinas aprovadas na UE dão “elevado nível de proteção” contra Ómicron, garante EMA
- Covid-19: estudo mostra que reforço com AstraZeneca confere elevada resposta imunitária
São desconhecidos os efeitos a longo prazo da Ómicron
As infeções com variantes anteriores do coronavírus, incluindo infeções leves e casos após a vacinação, às vezes causavam a síndrome covid persistente e debilitante de longo prazo.
“Ainda não temos dados sobre qual proporção de infeções com Ómicron que terminam com covid longo”, disse Iwasaki. “As pessoas que subestimam a Ómicron como ‘leve’ correm o risco de contrair doenças debilitantes que podem durar meses ou anos”.
Também não é claro se a Ómicron terá algum dos efeitos “silenciosos” que foram observados com variantes anteriores, como anticorpos que atacam os nosso organismo, deficiências no esperma e alterações nas células produtoras de insulina.
Há poucos medicamentos
Os tratamentos com Omicron são tão limitados que os médicos têm de racioná-los.
Dois dos três medicamentos de anticorpos usados durante as vagas anteriores são ineficazes contra esta variante.
O terceiro, Sotrovimab, da GlaxoSmithKline, está em falta, assim como um novo tratamento antiviral oral chamado Paxlovid, da Pfizer, que parece ser eficaz contra a Ómicron.
Não há garantia de que, se ficarmos doentes, tenhamos acesso a tratamentos.
Os hospitais estão sob pressão
Em indivíduos totalmente vacinados e com a dose de reforço, sem outros problemas de saúde, a Ómicron “não causará muitos danos”, disse David Ho, professor de microbiologia e imunologia da Universidade de Columbia.
Ainda assim, quanto menos infeções, melhor, especialmente agora que os hospitais já estão sobrecarregados e o pico da onda Ómicron ainda está por vir.
- Hospitais com dificuldade em completar escalas por terem pessoal infetado com covid-19
- “Temos de lidar com a pressão nos hospitais e enfrentá-la nos próximos dias”, avisa ministra da Saúde
Mais infeções significam mais novas variantes
A Ómicron é a quinta variante altamente significativa do SARS-COV-2 original, e resta saber se a capacidade do vírus de sofrer mais mutações diminuirá.
Altas taxas de infecção também dão ao vírus mais oportunidades de mutação, e não há garantia de que uma nova versão do coronavírus seja mais benigna do que as antecessoras.
“O SARS-CoV-2 surpreendeu-nos de muitas maneiras diferentes nos últimos dois anos e não temos como prever a trajetória evolutiva desse vírus”, salienta o professor David Ho.