Um sismo de magnitude 3.8 na escala de Richter foi sentido esta terça-feira em São Jorge, o mais forte desde 19 de março, quando se iniciou a crise sismovulcânica. No total, foram registados cerca de 700 sismos só esta terça-feira nessa ilha açoriana. “Se o magma conseguir através dessa pequena sismicidade atingir níveis mais altos na crosta, depois pode, muito repentinamente, tal e qual como em La Palma, chegar à superfície”, diz o geólogo Fernando Ornelas Marques, em entrevista na SIC Notícias. De acordo com o especialista, “a erupção era uma possibilidade e passou a ser uma probabilidade de mais de 50%”.
“Milhares de pequeninos sismos significam que o magma está a migrar lentamente por tudo quanto é fraturinhas e falhas. Vai subindo e, à medida que vai subindo, a pressão vai baixando na litosfera e se a pressão no magma se mantiver semelhante, torna-se mais fácil chegar à superfície. Por isso, eu prestaria muita atenção a esses milhares de sismos mais pequeninos porque podem significar, de facto, que o magma está a ascender para a superfície”, explica Fernando Ornelas Marques.
Proteção Civil apela à população para se “manter alerta”
A opinião do geólogo Fernando Ornelas Marques é partilhada pelo presidente da Proteção do Civil dos Açores que reiterou, esta quarta-feira, a necessidade da população de São Jorge “se manter alerta” para a possibilidade de um sismo de maior intensidade ou erupção vulcânica.
“As pessoas têm de se manter alerta, têm de cumprir com as recomendações das entidades oficiais, manter as suas medidas de autoproteção bem vivas e presentes para as colocar em prática em caso de necessidade”, afirmou o responsável do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (SRPCBA).
Segundo Eduardo Faria, o sismo de maior magnitude registado nesta crise sismovulcânica foi registado às 21:56 (22:56 de Lisboa) de terça-feira e teve o epicentro no mar, a cerca de dois quilómetros da vila de Velas, sem provocar “danos materiais ou humanos”.
Este sismo “vem na sequência do que temos transmitido de que esta crise pode passar pela possibilidade de uma erupção ou um sismo mais forte”, adiantou o presidente do SRPCBA, que falava após o ‘briefing’ da Proteção Civil que se realiza diariamente na ilha de São Jorge.
“Temos de estar preparados para um sismo de maior intensidade e que possa trazer danos materiais”, adiantou Eduardo Faria aos jornalistas.
Ainda segundo o responsável, o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) apoia-se também na informação do satélite Sentinel da Agência Espacial Europeia sobre a atual crise sismovulcânica, que deverá disponibilizar novos dados no sábado.
“Este satélite passa no espaço da região [dos Açores] de 12 em 12 dias e, em princípio, sábado será a passagem na vertical sobre a ilha de São Jorge e poderemos ter dados adicionais e imagens que permitam uma imagem mais profunda e mais apurada do que tem estado a acontecer”, salientou o presidente do SRPCBA.
Segundo os dados oficiais, desde o início da crise, em 19 de março, foram registados cerca de 23 mil sismos de baixa magnitude em São Jorge, a grande maioria na zona central da ilha entre as Velas e a Fajã do Ouvidor, dos quais 215 sentidos pela população.
O número de sismos registados é mais do dobro do total contabilizado em toda a Região Autónoma dos Açores durante o ano de 2021.
A ilha está com o nível de alerta vulcânico V4 (ameaça de erupção) de um total de sete, em que V0 significa “estado de repouso” e V6 “erupção em curso”.
Com Lusa
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