Cultura

Especialistas brasileiros defendem Acordo Ortográfico

A implantação do Acordo Ortográfico de Língua  Portuguesa (AO) foi defendida hoje por um académico, um historiador e um  linguista brasileiros, que rejeitaram o projeto de simplificação do idioma,  analisado pelo Senado brasileiro, durante um debate em São Paulo.  

prtaldalinguaportuguesa.org

O debate ocorreu na 23. Bienal Internacional do Livro e contou com  a participação do gramaticista e membro da Academia Brasileira de Letras  Evanildo Bechara, do linguista e coordenador da comissão brasileira no Instituto  Internacional da Língua Portuguesa (IILP) Carlos Alberto Faraco, e do historiador  Jaime Pinsky.  

Faraco criticou o adiamento do prazo para a obrigatoriedade de alicação  do AO no Brasil, de janeiro de 2013 para janeiro de 2016, e defendeu a integridade  do documento, ou seja, que o acordo não sofra alterações.  

O projeto de simplificação do idioma tem sido defendido por linguistas  brasileiros, liderados por Ernani Pimentel, e está em análise na Comissão  de Educação do Senado brasileiro.  

A proposta, que já foi apresentada em Portugal e em África, prevê a  adoção de uma nova ortografia que suprima, por exemplo, a letra "H" não  pronunciada e mude as atuais regras de uso do "g" e do "j".  

"O que se propõe é vandalismo ortográfico", afirmou Faraco. "Não há  fundamentação técnica ou razão social, cultural e económica para mexer numa  ortografia estabilizada", afirmou Faraco, para quem a escrita fonética (aquela  que segue o som das palavras) seria um "descalabro" e o "fim da ortografia".

O historiador Jaime Pinsky citou um artigo que escreveu para o jornal  Correio Brasiliense, em maio. No texto, problematiza a questão dos sotaques  regionais que, no caso de uma escrita fonética, causaria confusão na grafia  das palavras - o mês de abril, por exemplo, é pronunciado "abriu" ou até  "abrir" em diferentes localidades brasileiras.  

"É ridícula a ideia de escrever como se fala. A língua tem fatores de  caráter históricos, que não podem ser desconsiderados", disse.  

O académico Evanildo Bechara lembrou que a opção por uma escrita fonética  em português já foi rejeitada no século XIX, quando foi proposta, e realçou  que a língua tem princípios culturais e sociais. "Há de se trabalhar para  que a coletividade escreva  1/8o português 3/8 de uma maneira única, mas quem  deve propor  1/8as regras 3/8 são os técnicos, as academias e as universidades",  afirmou.  

Bechara disse também que não concorda com todas as regras do AO, e que  ele necessita de algumas adaptações, mas que serão feitas com o tempo. 

Faraco usou como exemplo a falta de padronização para as palavras provenientes  do idioma banto, em África, mas que essas questões poderão ser resolvidas  localmente, como fez Moçambique ao incluir vocabulário dessa língua, nas  normas ortográficas.  

O Acordo Ortográfico começou a ser negociado em 1975, foi assinado em  1990 pelos oito países de língua oficial portuguesa (Angola, Brasil, Cabo  Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste)  e ratificado por seis deles, com exceção de Angola e Moçambique. 

Lusa