Joseph Gordon-Lewitt, que encarna Edward Snowden no filme do premiado realizador "antissistema", afirmou em entrevistas não ter dúvidas de que ele é um patriota.
"Mostrou dois tipos de patriotismo, quando se alistou no exército em 2004, no auge da guerra do Iraque, para combater pelo seu país, e quando chamou o seu governo à responsabilidade através da fuga" de documentos classificados, disse.
"Ele fez o que fez verdadeiramente por amor ao seu país e aos princípios sobre os quais o seu país foi fundado", acrescentou o ator, que na rodagem do filme se encontrou várias vezes com Snowden, exilado na Rússia desde 2013.
O filme, que estreou a 16 de setembro nos Estados Unidos entrando para o quarto lugar das receitas de bilheteira, tem a aprovação de Snowden, que numa entrevista ao jornal britânico Financial Times disse que, politicamente, "é o mais próximo da realidade" que um filme pode ser.
Oliver Stone, 70 anos, recebeu o Oscar de Melhor Realizador com os filmes "Platoon - Os Bravos do Pelotão" (1986) e "Nascido a 4 de Julho" (1989).
A sua carreira, plena de filmes sobre questões políticas, inclui a trilogia presidencial "JFK" (1991), "Nixon" (1995) e "W." (2008) e a série documental "A História Não Contada dos Estados Unidos" (2012-2013).
Stone interessou-se também pela desregulação do mundo financeiro - "Wall Street" (1987) e "Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme" (2010) - e a política internacional - "Comandante" (2003), sobre Fidel Castro, e "Ao Sul da Fronteira", um documentário com entrevistas a Hugo Chávez, Cristina Kirchner e Rafael Correa -, e prepara agora um filme sobre Vladimir Putin.
Antes de chegar ao grande público, "Snowden" foi exibido em julho na convenção de entretenimento Comic-Com, em San Diego, e, em setembro, no Festival de Cinema de Toronto e no Festival de Cinema de San Sebastian.
Polémico por natureza, Oliver Stone aproveitou estas exibições para alertar para a falta de privacidade do mundo atual. Questionado em San Diego sobre o jogo "Pokemon Go", considerou tratar-se de "um novo nível de invasão pessoal" e de "capitalismo de vigilância".
Antes da exibição do filme foram distribuídos pensos rápidos, usados para tapar a câmara dos computadores portáteis e proteger dessa forma a privacidade.
O filme baseia-se no livro "Os Ficheiros Snowden", uma crónica do caso escrita por Luke Harding, do jornal britânico The Guardian, e no thriller político "The Time of the Octupus" ("A Hora do Polvo"), da autoria do advogado russo de Snowden, Anatoly Kucherena.
Relata a história de Edward Snowden desde que ingressou no exército até ser contratado pela Agência Central de Informações (CIA) e pela NSA, responsável pela espionagem electrónica dos Estados Unidos.
Além de Gordon-Lewitt, participam na longa-metragem Shailene Woodley, Melissa Leo, Zachary Quinto, Tom Wilkinson e Nicholas Cage.
Segundo Oliver Stone, todos os grandes estúdios cinematográficos norte-americanos recusaram financiar o filme: "Francamente, foi recusado por todos os grandes estúdios. Foi decididamente autocensura. Não acredito que houvesse um inimigo como a NSA escondido na sombra, mas a autocensura é enorme nesta indústria", disse o realizador em julho.
O filme é distribuído por uma produtora independente criada há cinco anos, a Open Road, que em 2015 produziu "O Caso Spotlight", vencedor do Oscar para Melhor Filme, sobre a investigação do jornal Boston Globe que revelou o escândalo de abusos sexuais de menores por membros da Igreja Católica.
Dois dias antes da estreia nas salas norte-americanas, três das principais organizações internacionais de defesa dos direitos humanos - Amnistia Internacional, Human Rights Watch e a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) - lançaram uma campanha global para pedir ao Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que perdoe Edward Snowden, acusado de espionagem nos EUA, antes de terminar o mandato, em janeiro de 2017.
Várias personalidades assinaram desde então a petição colocada no site, incluindo o empresário e filantropo George Soros, o realizador Michael Moore, os atores Martin Sheen e Susan Sarandon, os músicos Peter Gabriel, Jean-Michel Jarre e Laurie Anderson, o linguista e filósofo Noam Chomski ou as escritoras Ursula Le Guin e Joyce Carol Oates.
Lusa