Para lá de “The Crown”, uma das séries de maior impacto nestes últimos anos, não se poderá dizer que Isabel II (1926-2022) seja uma figura muito frequente na ficção audiovisual, televisiva ou cinematográfica — pelo menos quando comparada com outras personalidades emblemáticas da história europeia. Em todo o caso, um filme, pelo menos, fixou-se no imaginário popular como espelho de um momento especialmente convulsivo do seu reinado: “A Rainha”, produção Miramax lançada em 2006, ficou, de facto, como um retrato dramático do momento da morte da Princesa Diana, em 1997.
Curiosamente, trata-se de uma realização de um cineasta inglês cujas raízes (de trabalho e também de estilo) são indissociáveis da riquíssima tradição do realismo britânico: Stephen Frears, autor de títulos como “A Minha Bela Lavandaria” (1985), “Estranhos de Passagem” (2002) ou “Filomena” (2013). Ao retratar Isabel II, tendo como base um argumento do experiente Peter Morgan, Frears aposta num eficaz ziguezague emocional: por um lado, Isabell II surge como alguém que tenta equilibrar o distanciamento em relação a Diana com o facto de a sua morte desencadear um impressionante movimento colectivo de luto; por outro lado, essa tensão, em última instância de natureza política, surge encenada através de muitos elementos da mais pura intimidade.
Escusado será sublinhar que o impacto de “A Rainha” não pode ser dissociado da sofisticada interpretação de Helen Mirren — ela consegue, de facto, compor a personagem de Isabel II, não apenas através das semelhanças físicas, mas valorizando uma complexidade emocional com tanto de vibrante como se secreto. Nos Óscares, Mirren foi consagrada como melhor actriz, num ano em que, entre as nomeadas, estavam também, por exemplo, Kate Winslet (“Pecados Íntimos”) e Meryl Streep (“O Diabo Veste Prada”).