Falamos de Arnold Schwarzenegger? Sim, é verdade. O desgaste da sua carreira cinematográfica, com a repetição de fórmulas cada vez mais estereotipadas, tornou-o uma referência menos gloriosa do que a ambição espectacular dos seus filmes. Seja como for, é um facto que o actor americano (nascido na Áustria, em 1947) está ligado a alguns momentos de grande e esplendoroso espectáculo — um exemplo, disponível em streaming, poderá ser “O Último Grande Herói” (1993).
O próprio título ajuda-nos a perceber que Schwarzenegger se move, aqui, num território ficcional que funciona como uma espécie de memória irónica da sua própria condição de herói cinematográfico. Ele é Jack Slater, precisamente uma personagem mítica dos filmes de aventuras. Desta vez, “salta” literalmente do ecrã, já que Danny Madigan (Austin O'Brien), um jovem fã dos seus filmes, recebe um bilhete mágico que lhe permite entrar no próprio filme de Slater a que está a assistir… E como do lado de cá, no nosso mundo real, há um criminoso que é preciso deter, o “último grande herói” vai andar em ziguezague entre os dois universos…
O dispositivo não é, obviamente, original — encontramo-lo, por exemplo, em “A Rosa Púrpura do Cairo” (1985), de Woody Allen. Mas é um facto que o realizador, John McTiernan, o sabe reinventar com contagiante energia. Estamos, afinal, perante uma aventura apostada em discutir as regras da própria aventura. Como se se tratasse de perguntar: até que ponto os artifícios espectaculares do cinema podem ser “repetidos” na vida de todos os dias, do lado de cá do ecrã?
No plano comercial, acabou por ser um dos falhanços da produção americana de 1993 (vale a pena recordar que foi o ano do impacto do primeiro “Parque Jurássico”). Dir-se-ia que é sempre arriscado desafiar as convenções que, melhor ou pior, dominam o mercado cinematográfico. Paradoxalmente (ou talvez não…), “O Último Grande Herói” tem hoje o estatuto de filme de culto.