Cultura

Que sabemos do cinema europeu?

Os Prémios do Cinema Europeu regressaram, discretamente, à actualidade. O vencedor de Cannes, “Triângulo da Tristeza”, foi eleito melhor filme do ano.

"Mariupol 2", de Mantas Kvedaravicius, consagrado como melhor documentário europeu de 2022
"Mariupol 2", de Mantas Kvedaravicius, consagrado como melhor documentário europeu de 2022

No sábado, dia 10 de dezembro, realizou-se em Reykyavik (capital da Islândia) a 35ª edição dos Prémios da Academia do Cinema Europeu ou, mais simplesmente, Prémios do Cinema Europeu. As duas principais distinções, respectivamente para melhor filme e melhor documentário, foram para “Triângulo da Tristeza”, do sueco Ruben Östlund (vencedor da Palma de Ouro de Cannes, no passado mês de maio), e “Mariupol 2”, título póstumo do lituano Mantas Kvedaravicius sobre a guerra da Ucrânia — o primeiro, já estreado entre nós, ainda está em exibição em algumas salas; o segundo permanece inédito no circuito comercial português.

Quantos de nós sabíamos destes prémios? E que informação encontrámos sobre os seus eleitos?

As perguntas são tanto mais pertinentes quanto se tornou um lugar-comum dizer que estes são os “Óscares do cinema europeu”, de um modo ou de outro envolvendo algumas das produções mais marcantes do ano — veja-se, aqui em baixo, o vídeo oficial sobre os nomeados. Ainda assim, não será preciso grande esforço demonstrativo para reconhecer que, pelo menos em anos anteriores, os Prémios do Cinema Europeu tiveram sempre menor visibilidade do que a temporada de prémios nos EUA (Globos de Ouro, Óscares, etc.), ou até mesmo em países europeus como o Reino Unido (BAFTA) e a França (Césares).

Entenda-se: do meu ponto de vista, tal conjuntura não pode ser descrita, muito menos transformada, através de uma qualquer atitude “vingativa”, à procura dos respectivos “culpados”… Acontece que, em nome de uma lucidez muito básica, importa reconhecer que, ao completarem 35 anos de existência, os Prémios do Cinema Europeu — da indústria aos espectadores, passando pelo espaço mediático — continuam a existir de modo discreto no interior do próprio continente que, afinal, representam.

O que deixa uma questão que, sendo cinematográfica, é também inevitavelmente política. A saber: como conhecemos os filmes que se fazem na Europa? Ou ainda: que sabemos das singularidades do cinema europeu? Na certeza de que nenhuma atitude paternalista pode ajudar a enfrentar a questão — com filmes “bons” ou “maus” (por certo, “bons” e “maus”), trata-se de saber também que espectadores somos, ou podemos ser.