Falecido no dia 24 de fevereiro (contava 101 anos), Walter Mirisch ocupa um lugar importante na história moderna de Hollywood. Embora ligado a um contexto de muitas transformações da indústria cinematográfica, apetece dizer que ele foi um produtor “à moda antiga”.
Uma razão bastaria para justificar a sua importância: na qualidade de produtor, ganho o Óscar máximo, melhor filme do ano, com “No Calor da Noite” (1967), policial dirigido por Norman Jewison, protagonizado Sidney Poitier — aliás, o filme arrebatou mais quatro estatuetas douradas nas categorias de actor secundário (Rod Steiger), argumento adaptado, som e montagem.
Durante várias décadas, ele foi, de facto, uma personalidade marcante na produção de Hollywood, na qualidade de presidente de The Mirisch Corporation, que fundou em 1957 com os irmãos, Marvin e Harold Mirisch. Pode mesmo dizer-se que a empresa funcionou como um fundamental elo de ligação — e, nessa medida, de transformação — da produção clássica para o universo multifacetado das décadas de 1960/70, muitas vezes referido como “New Hollywood”.
São esclarecedoras as suas funções (como produtor ou produtor executivo) em títulos emblemáticos daquele período. Lembremos apenas alguns casos:
— “Os Sete Magníficos” (1960), de John Sturges, uma variação espectacular sobre as matrizes tradicionais do “western”;
— “West Side Story” (1961), de Robert Wise e Jerome Robbins, momento decisivo na transfiguração do musical clássico;
— “A Pantera Cor de Rosa” (1963), de Blake Edwards, primeiro título de uma série de paródias do género policial, com o genial Peter Sellers a criar a personagem do Inspector Clouseau [recordemos, aqui em baixo, o delicioso trailer original];
— “Um Violino no Telhado” (1971), de Norman Jewison, talvez não um grande musical, mas um dos que, apesar de tudo, mais contribuiu para manter a popularidade do género na década de 70;
— “Drácula” (1979), de John Badham, com Frank Langella, apostando na revitalização de uma personagem que pontuou várias décadas do género de terror.
Certamente não por acaso, Walter Mirisch acabaria por receber as duas distinções honorárias regularmente atribuídas pela Academia de Hollywood: o Prémio Irving G. Thalberg e o Prémio Humanitário Jean Hersholt (respectivamente em 1978 e 1983). Como recordou “The Hollywood Reporter”, ele continua a ser a única pessoa que, além de ter recebido esses dois prémios, também ganhou um Óscar de melhor filme. O seu trabalho foi, afinal, exemplar durante um período de mudança: abrindo a produção a novas tendências temáticas e narrativas, ele soube também preservar os valores da herança clássica.