João Lopes

Comentador SIC Notícias

Cultura

Sessão de Cinema: “The Velvet Underground”

Para redescobrirmos a banda de Lou Reed e John Cale, eis um magnífico documentário com assinatura de Todd Haynes.

Andy Warhol e Lou Reed: memórias da cena musical da segunda metade da década de 1960
Andy Warhol e Lou Reed: memórias da cena musical da segunda metade da década de 1960

Nascido em Los Angeles, em 1961, Todd Haynes é um cineasta que, directa ou indirectamente, sempre se interessou pelo valor cinematográfico da música e dos músicos. Bastará recordar títulos da sua filmografia como “Velvet Goldmine” (1998), uma história dos tempos do “glam rock” inspirada em David Bowie, ou “I’m Not There - Não Estou Aí” (2007), uma biografia “imaginária” de Bob Dylan.

Agora, através do streaming, podemos ver ou rever o documentário “The Velvet Underground”, um dos acontecimentos fulcrais da edição de 2021 do Festival de Cannes. Trata-se, obviamente, de revisitar as memórias da banda de Lou Reed e John Cale, apadrinhada por Andy Warhol, sublinhando a sua originalidade, e também a sua decisiva influência, no panorama rico e contrastado da segunda metade da década de 1960.

Fundamentais na estrutura do filme são os testemunhos de membros sobreviventes da banda, com destaque para as memórias de Cale, mas também de Maureen Tucker. Em qualquer caso, este não é um filme banalmente nostálgico, antes um genuíno trabalho de investigação, de raiz jornalística, apostado em expor as singularidades de uma maneira de sentir e criar música com importantes efeitos para lá da paisagem vanguardista da época.

O elaborado trabalho de recolha e montagem de materiais de arquivo valoriza, em particular, as performances da banda — dir-se-ia que cada concerto era vivido, não como uma mera “apresentação” de canções, antes como um tempo de redescoberta e recriação dessas mesmas canções. Estamos perante um daqueles casos que merecia a grandeza, a sonoridade e o ambiente de uma sala escura (como, obviamente, aconteceu em Cannes), mas não fará sentido menosprezar a possibilidade de conhecer “The Velvet Underground” nos nossos ecrãs caseiros — este é, afinal, um dos grandes documentários sobre música produzidos no século XXI.

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